A academia e os meios de comunicação social articulam pontualmente no contexto da produção editorial, no entanto é necessário juntarem-se na procura de soluções para a sustentabilidade financeira dos media, defende Carlos Castilho, num artigo publicado no Observatório da Imprensa, com o qual o Clube Português de Imprensa mantém uma relação de parceria.

Nesta reflexão, o autor começa por argumentar que existe uma “histórica desconfiança e distanciamento mútuo entre académicos, profissionais e empresários do jornalismo”.

E, quando existe aproximação, esta tende a acontecer ou porque a academia procura a imprensa para dar visibilidade aos seus trabalhos, ou porque os jornais, rádio e televisão “recorrem à universidade para reforçar a credibilidade de notícias”.

“Raríssimos são os casos de colaboração institucionalizada e multidisciplinar de longo prazo”, aponta o jornalista, apresentando como exemplo o projecto #UseTheNews, lançado em 2020, que reúne uma equipa de investigadores académicos, um profissional na área da educação e cinco jornalistas.

“O mais lógico”, argumenta o autor, “seria a soma de esforços” com vista à procura de soluções para o “dilema da sustentabilidade na era digital”.

Por um lado, porque os investigadores estudam a realidade social e os comportamentos do público, e sistematizam dados que podem fundamentar respostas inovadoras. Carlos Castilho lembra que existem projectos de investigação nos Estados Unidos e em alguns países europeus onde as equipas já estão a testar fórmulas práticas dedicadas à sustentabilidade.

Por outro lado, porque, para que as hipóteses ou teorias “se tornem operacionais na imprensa, é necessário que sejam testadas no ambiente do jornalismo profissional e das indústrias de comunicação”.

“A era digital mudou a realidade da comunicação e da informação”

Com base na premissa de que “a chave para os problemas actuais do jornalismo está na identificação, sem ideias pré-concebidas, das necessidades e desejos do público”, o meio académico tem adoptado uma tendência de estudo dos comportamentos e valores do “público consumidor de notícias” — este fenómeno é designado “audience turn”.

“Dentro dessa área de estudos e investigações, destaca-se o debate sobre a teoria da prática que propõe o uso de procedimentos metodológicos inspirados em disciplinas como etnografia e sociologia”, explica Carlos Castilho, reportando-se, entre outras referências, ao texto “Pierre Bourdieu: a teoria na prática”.

Embora este debate ainda seja “maioritariamente teórico”, alguns projectos académicos já têm estado a recolher dados empíricos “sobre ecossistemas e necessidades informativas”, trabalhando em parceria com organizações não-governamentais.

É disso exemplo o Center for Cooperative Media, da Montclair State University, no estado norte-americano de New Jersey.

Porém, o “ritmo industrial na produção de notícias” não permite aos jornalistas terem tempo para se manter actualizados relativamente aos novos conhecimentos sobre a comunicação.

Como consequência, os dados das investigações “acabam quase sempre servindo como insumo [input] para uma notícia e depois vão para o arquivo”.

“Torna-se cada vez mais essencial a criação de uma interface estrutural entre as áreas de pesquisa e prática do jornalismo”, reforça o autor.

Consciente de que estes movimentos não serão suficientes para restabelecer “a lucratividade do negócio da notícia”, o jornalista acredita que o que está em causa é “a revitalização do jornalismo, num momento histórico em que a informação se tornou mais importante do que nunca na vida das pessoas”.

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