O autor defende que se “trata de um fenómeno que altera a definição clássica de notícia, incluída nos manuais de jornalismo, e, mostra como as pessoas comuns começam a ser cada vez mais presentes e influentes nas redes sociais e, consequentemente, no espaço público de debates”.

De acordo com Castilho, a Comunicação Baseada em Notícias (CBN) “começa a criar novas estruturas de relacionamento entre jornalistas e o público enquanto o debate sobre o tema, “está basicamente restrito ao meio académico porque os jornais, revistas impressas, emissoras de rádio e telejornais evitam tratar do assunto já que isso implicaria admitir que o modelo editorial vigente já não responde a todas as necessidades informativas da população”.

Embora, o público ainda seja muito influenciado pelos temas destacados nas manchetes da grande imprensa, percebe-se através das grandes redes sociais, que “a agenda das elites acaba modificada no debate entre as pessoas comuns, graças à incorporação de opiniões, queixas, protestos e preocupações individuais condicionadas por um contexto distinto do vivido nas redacções. Surge uma outra agenda e um novo formato de notícias” afirma.

“O conceito tradicional de notícia, tem pelo menos uns 200 anos de existência e foi essencialmente condicionado pelo establishment político e empresarial. A definição nunca foi questionada seriamente por que a comunicação era um processo controlado pelas elites”. Mas com a chegada da Internet, “rompeu-se a hegemonia e as pessoas passaram a comunicar entre si, introduzindo gradualmente os seus interesses, necessidades e desejos na conversação através de redes sociais”.

“As notícias deixaram de estar relacionadas exclusivamente com política e economia das elites para passar a reflectir questões como buracos na rua, falta de água, preço da luz, inflação e questões pessoais como aniversários, paixões desportivas, zangas familiares, falecimentos etc. Estes dados, factos e eventos passaram a ser a notícia mais importante entre os diversos segmentos sociais que compõem o universo de um Facebook por exemplo. É este processo que está na origem da Comunicação Baseada em Notícias

Castilho, considera que ainda não há regras definidas para o papel dos jornalistas nesta forma de comunicação CBN, o que a sujeita “a desvios graves como é o caso das fake news e do discurso do ódio”.

“É aí que entra o jornalismo não como um fiscal ou patrulheiro, mas como curador e mediador dos utilizadores de redes sociais. Os profissionais ainda estão impreparados para estas funções, mas apesar disso continuam a ter mais condições técnicas e conhecimento do que a grande maioria das pessoas para identificar meias verdades, notícias falsas ou descontextualizadas”.

O ritmo acelerado e enorme caudal de informação, tornam “difícil distinguir entre o que é relevante e o que é supérfluo, separar o dado confiável do que é falso, bem como mostrar quando um facto está ou não devidamente contextualizado”.

A complexidade dessa tarefa está “claramente fora do alcance da maioria das pessoas por causa de limitações de tempo e de familiaridade com o complexo mundo da informação”.

“O papel de curador de notícias é uma das novas competências que o jornalismo digital está a ser chamado a assumir”. Torna-se necessário um curador que oriente os leitores, ouvintes, telespectadores e internautas que separe o trigo do joio no que respeita à informação, defende Castilho.

Essa nova função “exige um conjunto de habilidades que não constam nem do currículo das escolas de jornalismo, nem dos manuais de redacção, basicamente concentrados na apuração e redacção de notícias”. E, vai implicar “um novo tipo de relacionamento entre o profissional e o seu público”.

Essa nova relação com o público vai  “inevitavelmente ocorrer em ambientes informativos restritos, comunidades, bairros ou pequenas cidades, porque a segmentação de audiências é uma tendência irreversível dentro da internet”. O jornalista vai poder “moderar os debates, evitando o discurso do ódio, bem como exercer a delicada missão de apontar o que vale a pena ler, ouvir ou ver”, o que estará dependente “da ligação entre o profissional e sua comunidade de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas”. Para isso acontecer “ainda não existem fórmulas prontas nem modelos únicos”, conclui Carlos Castilho.