O papel da Imprensa perante a concorrência digital
Um grupo argentino, a Infobae, conseguiu alcançar a maior audiência global em espanhol, e agora lança-se para conquistar o mercado em Espanha, “numa altura em que os grupos espanhóis estão numa situação muito delicada e com dificuldades em navegar na sociedade digital”.
Não é apenas uma batalha sectorial, ter uma “media” influente em toda a área de língua espanhola, incluindo os 50 milhões de hispânicos nos Estados Unidos, foi, e ainda é, de vital importância para os interesses estratégicos espanhóis.
Mas “com uma dívida de 915 milhões de euros e a subida das taxas de juro, com prejuízos de 90,5 milhões no ano 2021 e 28 milhões nos primeiros nove meses deste 2022, não está em condições de competir nesta corrida”, afirma Miguel Ormaetxea em artigo publicado na Media-Tics.
O autor acrescenta, “embora (o El País) tenha publicado grandes manchetes ao ter atingido 250.000 assinantes, (o New York Times ultrapassou 10 milhões) a 10 euros a assinatura digital, é evidente, que os paywalls não rentabilizarão por si só nenhuma imprensa, a Prisa abriu o capital a 20,8 euros por ação e está a pouco mais de 35 cêntimos”.
O El País tem 32 milhões de visitantes. Um jovem jornal argentino, o Infobae, tem 45 milhões, outro argentino, o Clarín, tem 30 milhões, superando o La Vanguardia, que tem 29. A Argentina, com um terrível problema endêmico de hiperinflação e governos desastrosos, tem excelentes jornalistas. Também existem bons no Uruguai, Colômbia, México, etc. Alguém teve a ideia de globalizar redações com excelentes profissionais que trabalham em espanhol? Questiona.
Por outro lado, segundo Ormaetxea será que não devíamos reflectir sobre o facto de um jovem como El Rubius, que fala sobre jogos, ter 40 milhões de seguidores e 7.000 milhões de visualizações? Ou sobre o caso de uma jovem, que só abre presentes doados por anunciantes, ter uma das maiores audiências do planeta? O autor salienta ainda que 70% dos jovens não têm interesse na TV ou nos “media”, apenas se interessam pelas redes sociais contaminadas com desinformação e futilidades.
Existem cerca de 3.000 orgãos de informação nativos digitais em Espanha e a publicidade digital é quase um monopólio das grandes empresas de tecnologia dos EUA. Quais são os planos para enfrentar a globalização que desta vez vem da América e não o contrário? Que futuro nos espera? Interroga-se o autor.