Se olharmos para a história da economia da atenção, ficamos com algumas pistas sobre o que nos trouxe a um contexto de excesso de informação em que se chegam a levantar dilemas éticos pela forma como a atenção das pessoas é explorada.

É sobre isto que escreve Ana Aldea, especialista em marketing e fundadora de Datasocial, agência espanhola de marketing digital, nos Cuadernos de Periodistas, da Asociación de la Prensa de Madrid, com a qual o Clube Português de Imprensa mantém uma relação de parceria.

No artigo, a autora começa por apresentar uma definição: “a economia da atenção é aquela que monetiza a atenção que os utilizadores dão aos conteúdos”.

Esta descrição é, no fundo, a mesma que podemos aplicar à era dos meios de comunicação em massa, admite a especialista.

As origens

A noção de economia da atenção surgiu há mais de 20 anos, “com a massificação da internet”.

O conceito foi explicitado em 1997 no trabalho científico “The Attention Economy and the Net” (“A economia da atenção e a net”), de Michael H. Goldhaber, “que é o artigo pioneiro a lançar as bases desta ideia”, contextualiza Ana Aldea.

Do ponto de vista histórico, “no passado, a informação era um recurso muito escasso”, “consumido por uma minoria e produzido por uma minoria ainda mais minoritária”.

À medida que foram surgindo os meios de comunicação de massas, incluindo, a dada altura, a internet, “a informação passou a ser um recurso superabundante”.

Passámos da escassez à “infoxicação”.

As mudanças “nas regras do jogo”

Com a expansão da internet, dão-se duas alterações fundamentais para o mercado: as fontes de informação passam a ser “quase infinitas” e “o tempo dedicado à informação e ao entretenimento deixou de estar separado, pelo que a informação compete directamente com o entretenimento”.

Este segundo aspecto adensa-se ainda mais quando falamos das redes sociais, onde se encontram, lado a lado, informação e entretenimento — “talvez uma das razões que atiraram os meios de comunicação para os braços do clickbait, já que é realmente muito difícil competir com o entretenimento”.

Para Ana Aldea, este fenómeno “redefiniu as regras do jogo”.

“A atenção dos consumidores tornou-se no recurso mais cobiçado, criando um mercado em que apenas os mais astutos ou inovadores podem prosperar”.

Onde estamos agora

A actualidade é caracterizada pelo excesso de estímulos, com as pessoas “presas aos telefones” e “à velocidade dos acontecimentos” —  por contraste, “a geração dos nossos avós não precisava de aulas de mindfulness, porque eles viviam ancorados no presente”, comenta a autora.

Surgem, assim, os dilemas éticos da exploração da atenção e os efeitos da saturação informativa no comportamento humano, “questões que precisam de ser abordadas com urgência”, considera Ana Aldea, num texto em que deixa também algumas reflexões sobre o fenómeno dos “prosumidores”, consumidores que são também produtores de informação.

Em jeito de conclusão, a autora defende que “não é só importante adaptarmo-nos a estas novas dinâmicas”, é preciso também inovarmos na forma como “captamos, valorizamos e gerimos a atenção num mundo digitalmente interconectado e perpetuamente distraído”.

(Crédito da fotografia: Creative Christians no Unsplash)