O impacto do desmantelamento da USAID na imprensa local

Quando a USAID começou a ser desmantelada, os estudantes jornalistas do The Arkansas Traveler perceberam que os impactos não eram apenas internacionais — afectavam também o noroeste do Arkansas. A agência costuma comprar cerca de 2 mil milhões de dólares em colheitas americanas para ajuda externa, sendo o Arkansas responsável por cerca de 40% do fornecimento de arroz. Sem este programa, os agricultores locais enfrentam dificuldades para escoar a sua produção, salienta um artigo do Nieman Lab.
“À medida que as manchetes de Washington continuam a repercutir-se no exterior, os estudantes jornalistas estão a provar que a relevância local não requer proximidade - apenas perspectiva”.
Editores do The Arkansas Traveler e do The Ithacan explicaram ao Nieman Lab como conseguem conectar as decisões federais a impactos directos nas suas próprias comunidades. Para ambas as redacções, tudo se resume a uma coisa: conhecer o seu público.
Sophia Nabours, editora do jornal The Arkansas Traveler, disse que a redacção passou a priorizar a localização das histórias, após discussões sobre como tornar temas nacionais relevantes para o público universitário. Embora assuntos nacionais sejam discutidos nas reuniões semanais, só são cobertos se houver uma ligação clara ao campus — como professores especialistas, opiniões de estudantes ou conexões institucionais.
A redacção também procura dar destaque a datas e temas nacionais, como o Mês da Consciencialização sobre a Violência Sexual e o Dia Internacional da Mulher. No entanto, nem todas as notícias nacionais são cobertas. Por exemplo, o jornal cobriu as recentes tarifas comerciais, mas não os incêndios na Califórnia. Segundo Nabours, decidir o que cobrir é um desafio constante, pois nem todas as histórias são suficientemente relevantes para os leitores.
Em Nova Iorque, a equipa do The Ithacan tem uma abordagem diferente: em vez de adaptar todas as notícias nacionais ao contexto local, começam por questões locais e aprofundam-nas quando têm ligação a temas nacionais. Por exemplo, a cobertura do regresso de Donald Trump começou com um e-mail do campus sobre mudanças nas protecções a estudantes transgénero. A partir disso, o editor Eamon Corbo falou com estudantes transgénero e investigou o contexto local da questão.
Tanto no The Traveler quanto no The Ithacan, “por trás de cada história há uma busca estratégica e muitas vezes desafiadora pelas vozes certas”. No The Traveler, a procura de fontes começa com o directório do campus, “que ajuda os repórteres a conectar-se com especialistas do corpo docente ou organizações estudantis que podem falar directamente sobre o assunto”. Os sites do governo também são encarados como “fontes confiáveis de dados, números e estatísticas, enfatizando a importância da atribuição”.
Já no The Ithacan, Eamon Corbo salienta a importância de pensar nas pessoas que precisam de ser ouvidas para que uma história possa ser considerada importante. Em vez de cair na tentação do sensacionalismo, ele defende uma perspectiva “compassiva e mais completa”. Contudo, nem sempre é fácil convencer as pessoas a falar com um repórter. Kaeleigh Banda reforça que abordar fontes como um aprendiz — e não como um interrogador — torna as conversas mais autênticas.
No fim das contas, o mais importante é conhecer o público para o qual se escreve. Kaeleigh Banda explica que, quando surgem questões polémicas, pergunta aos seus colegas o que querem saber e ouvir. Eamon Corbo corrobora, dizendo que as entrevistas na rua ajudam a perceber o que as pessoas não sabem e o que precisa de ser explicado. Para alimentar a conexão com a comunidade, o jornal The Ithacan organiza sessões de atendimento e rondas de conversa no campus, para que os leitores expressem directamente as suas necessidades e interesses. Segundo Corbo, o objectivo é basear o jornalismo na comunidade, saindo da “bolha da redacção”.
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