Para editor americano o declínio da audiência nas notícias deve-se ao ciclo tecnológico
Bryan Goldberg, fundador e CEO da editora americana Bustle BDG, foi forçado a fechar o Gawker, a marca sarcástica de notícias online sobre celebridades, que foi pioneira em associar notícias com opiniões, e que gerou tráfego de forma viral, entre o início dos anos 2000 e 2016. Esses anos áureos acabaram.
Goldberg diz que “o declínio da audiência nas notícias tem a ver, em grande parte, com um ciclo tecnológico”. Na sua opinião, “as pessoas estão a ler menos, porque os telemóveis estão a enviar”, aos seus utilizadores, "vídeos das redes sociais".
“Acho que a maioria dos consumidores está a consumir, simplesmente, o que lhes é colocado à frente. E hoje, é muito mais provável que” lhes seja direccionado “um pequeno vídeo, do que um artigo escrito. Essa é uma das primeiras coisas que está a acontecer e que está a ser impulsionada pelo Tiktok, Instagram, Facebook e Snapchat”, assinalou Goldberg em entrevista a Jim Edwards, jornalista do Press Gazette.
Além disso, o CEO da Bustle BDG, acredita que o Google está a encaminhar menos tráfego para os media e os editores que não conseguirem adaptar-se “serão esmagados”.
O Facebook, por exemplo, reduziu a apresentação de notícias no “feed de notícias” para apenas 3% e de acordo com o Reuters Institute, apenas 22% das pessoas dizem, agora, que obtêm as suas notícias directamente de sites ou aplicações de notícias.
Ademais, “qualquer pessoa tem uma câmara de vídeo de alta qualidade no bolso. Cada pessoa tem, agora, aplicações móveis que permitem editar e anotar vídeos de formas muito inteligentes”, aponta Goldberg.
“Portanto, a qualidade do conteúdo gerado pelo utilizador aumentou e a quantidade de conteúdo aumentou drasticamente. E as plataformas estão a afastar as pessoas do conteúdo escrito. Todas estas coisas estão a acontecer ao mesmo tempo e isso está a ter um impacto negativo nas editoras”, afirma.
Goldberg diz, por isso, que “o mundo não já não precisa de «notícias quentes»”, como as do Huffington Post ou do Daily Beast.
Entretanto, a Google também está a mudar. “Eles recolhem conteúdo e mantêm-no no Google (…) impedindo que as pessoas cliquem fora” da plataforma, refere.
Antigamente alguém “fazia uma pergunta no Google sobre uma celebridade e recebia dez links”, lembra. “Hoje”, essas pessoas “obtêm a resposta directamente no Google e não precisam de clicar para aceder à web aberta”. Tal situação tem provocado “um declínio lento, através da Google, nos últimos quatro ou cinco anos.”
“A verdade é que Google, Meta e as principais plataformas estão a destruir lentamente a web aberta. Os consumidores jovens gastam muito pouco do seu tempo em computadores, em comparação com o que se fazia há dez anos”, acrescenta Goldberg.
Além de que, “a maioria das organizações de notícias ainda cria e publica os seus sites em plataformas projectadas para desktop”. Mas, refere o CEO, que “a maioria dos leitores de notícias já não está nos computadores; eles estão nos seus telemóveis e a usar aplicações, em vez de navegadores da web”.
A BDG tem, agora, 11 marcas diferentes: Bustle, NYLON, W Magazine, Elite Daily, Mic, The Zoe Report, Inverse, Scary Mommy, Romper, Fatherly e The Dad. Golberg diz que tem o maior público da Geração Z e da Geração Millennial, da qualquer editora, nos EUA.
No seu trabalho, os editores da BDG não estão a tentar manipular os algoritmos para obter cliques. Em vez disso, a BDG está à procura de audiências e receitas em sítios, nos quais o Google e o Facebook não podem competir.
Por exemplo, o BDG tem cinco milhões de assinaturas para recepção de e-mails.
Este é um tipo de distribuição de notícias “que temos, que não passa por uma plataforma. E … esta será uma área de grande crescimento do ponto de vista das receitas”, diz Goldberg.
Outra área são os eventos, que já representam 20% da receita do BDG. NYLON e W Magazine já organizam eventos e semanas de moda, e Goldberg acredita que a receita vinculada a eventos atingirá os 30%, nos próximos anos.
Por outro lado, Goldberg também acredita que muitos dos anunciantes já não querem ter as suas marcas próximas de polémicas.
“Os anunciantes estão a manter os seus anúncios longe de conteúdo controverso, ‘quente’ ou opinativo”, uma vez que “as ferramentas que ajudam a remover anúncios de qualidade adjacentes a conteúdo controverso aumentaram e melhoraram drasticamente”, refere o CEO da BDG.
Goldberg acredita que “as editoras que não evoluíram nos últimos cinco ou seis anos estão a ser esmagadas. Isso é bom. Elas devem ser esmagadas! Quem se recusar a evoluir ao longo de cinco ou seis anos e se recusar a mudar de negócio vai ser esmagado.”
Segundo o CEO, os media devem focar-se em nichos mais pequenos e mais valiosos, nos quais a marca tenha um relacionamento directo com o seu público.
A BDG, por exemplo, está focada, principalmente, em mulheres jovens que tenham dinheiro para compras de luxo, moda, beleza e paternidade.
“Não é preciso atingir 80 milhões de pessoas para ter um grande negócio editorial. Se se conseguir alcançar 20 ou 30 milhões das pessoas certas, isso pode impulsionar um grande negócio”, conclui.