Líderes da “CNN”, “BBC” e “The Economist” debatem o futuro

Na terceira edição da cimeira Sir Harry Summit, em Londres, os directores executivos da CNN, BBC News e The Economist reuniram-se para debater a forma como os meios de comunicação tradicionais estão a adaptar-se à nova era digital, marcada pela inteligência artificial (IA) e pela transformação do consumo de notícias. A PressGazette fez um resumo das principais intervenções.
O director executivo da CNN, Mark Thompson, sugeriu que a IA pode vir a ser uma forma “ainda melhor” de conectar o jornalismo ao público do que o Google alguma vez foi. No entanto, as suas declarações foram contestadas pela directora executiva da BBC News, Deborah Turness, e pela editora-chefe da The Economist, Zanny Minton Beddoes, que consideraram a ideia “errada” ou, no mínimo, “discutível”.
“Uma das falhas das reportagens dos meios de comunicação social tradicionais, feitas por jornalistas tradicionais, é que tendemos a concentrar-nos no negativo”, referiu Thompson, questionado sobre o impacto da IA no tráfego de referência. E acrescentou que vivemos actualmente num “processo dialéctico constante” em que a pesquisa e as redes sociais mudam continuamente: “Temos de nos adaptar às mudanças e encontrar novos caminhos para as pessoas nos encontrarem”.
Thompson comparou o jornalismo actual a “uma livraria com um milhão de livros e ninguém para ajudar a encontrar o que se procura”. Desta forma, defendeu que a IA representa uma oportunidade e “potencialmente uma forma melhor de resolver esta questão do que a pesquisa do Google na sua forma tradicional.”
A directora executiva da BBC News, Deborah Turness, salientou a outra face da moeda: “Penso que a IA é, na verdade, a maior ameaça à capacidade de descoberta.” Referindo-se a um estudo recente da BBC, a directora alertou que cerca de metade das respostas dadas por chatbots de IA contêm erros significativos, o que representa um risco para a confiança nas fontes de informação.
Por sua vez, Minton Beddoes, editora-chefe da revista The Economist, sublinhou que cada ameaça é uma oportunidade, mas que é importante “reconhecer que vamos assistir a uma mudança dramática na pesquisa”.
Vários editores manifestaram a preocupação de que os serviços de pesquisa com IA, como o ChatGPT e o AI Overviews da Google, estejam a diminuir o seu tráfego de referência, uma vez que respondem às perguntas dos utilizadores sem que estes tenham de clicar nas fontes.
A editora-chefe da The Economist acredita que os meios de comunicação tradicionais ainda podem prosperar, desde que saibam claramente o que têm para oferecer e como é que isso os diferencia das restantes organizações mediáticas.
A jornalista garantiu que a versão impressa da revista continuará a existir nos próximos anos, mas que o foco está na adaptação aos novos hábitos de consumo, através de aplicações, podcasts e vídeos curtos. "Estamos a mudar a relação entre os jornalistas individuais e os assinantes. A essência daquilo que a The Economist produz é anónima. Mas não se pode ter podcasts anónimos, vídeos anónimos, newsletters anónimas. Por isso, estamos a personalizar cada vez mais, e com muito gosto, as newsletters das pessoas”.
A batalha pela atenção dos mais jovens e a transparência
Deborah Turness apontou que a BBC enfrenta desafios distintos dos da CNN e da The Economist, já que necessita de servir todas as audiências: “Temos de tentar estar em todo o lado e servir algo para todos... por isso temos de descobrir onde está a audiência.”
A estratégia passa por priorizar as suas próprias plataformas, “trazer as pessoas até nós onde elas entendem que estão a obter um valor real pela sua taxa de licença - podemos também desenvolver uma relação, podemos recolher os seus dados, elas podem inscrever-se". A responsável reconhece que as plataformas como o YouTube continuam a dominar o tempo de consumo entre os jovens. Questionada se isso iria significar mais conteúdos da BBC na referida plataforma, Turness disse que sim, mas que o propósito final é resgatar os jovens e trazê-los para a própria plataforma da BBC.
Face à crescente desinformação, os executivos sublinharam a importância da transparência editorial e da verificação rigorosa, como exemplificado pela iniciativa BBC Verify. Thompson defendeu uma maior franqueza com as audiências: "Não creio que queiramos audiências confiantes. Queremos audiências críticas e queremos reconhecer que o seu desejo, as perguntas, os interrogatórios e os desafios são coisas positivas".
Minton Beddoes, por outro lado, destacou o valor da confiança já conquistada: “Mesmo os nossos leitores republicanos, apoiantes de Donald Trump, devem achar o nosso jornalismo útil e importante e com autoridade e confiança, e por isso precisamos de ter uma análise suficientemente boa para que mesmo os nossos críticos - e se formos um jornal de opinião, como nós somos, há muitos críticos - os nossos críticos continuem a querer interagir connosco”.
(Créditos da imagem: Captura de ecrã retirada do site da PressGazette - Reuters / Chris J Ratcliffe)