Um artigo de opinião controverso publicado pelo The New York Times após o assassinato de George Floyd resultou na demissão do editor James Bennet.

Num artigo recente, publicado no The Economist, Bennet oferece sua perspectiva sobre o incidente, criticando não apenas o Times, mas também o jornalismo em geral.

Bennet destaca que a situação reflecte uma mudança do viés liberal para um viés iliberal no jornalismo, questionando o papel do Times na promoção do debate. 

Mas, para recordar, em junho de 2020, sob a alçada do editor da secção de opinião James Bennet, o Times publicou um controverso artigo de opinião do Senador Tom Cotton que apelava a uma resposta militar aos protestos e à agitação cívica que se verificavam nas cidades americanas. 

Perante a crescente indignação em relação à publicação do artigo, foi anexada uma nota do editor à opinião que apontava as principais falhas do texto.

"O ensaio estava aquém dos nossos padrões e não deveria ter sido publicado", referia ainda.

O editor do Times, A.G. Sulzberger, considerou que a publicação do artigo de opinião era "uma falha significativa nos nossos processos de edição" e tal resultou na demissão de Bennet em poucos dias.

Aquando da situação, Tom Jones, do Poynter, questionou se “ele merecia perder o emprego” ou se teria sido “vítima de uma revolta interna e de críticas externas por parte daqueles que simplesmente não concordavam com o artigo que levou à sua demissão”.

Agora, no artigo "When the New York Times lost its way", do Economist, Bennet ofereceu algumas das suas respostas a essas questões.

Ao publicar o artigo de opinião no Times, Bennet disse que tinha o apoio de Sulzberger e Dean Baquet, à data editor executivo do Times, porque a opinião de Cotton parecia representar a opinião da Casa Branca e talvez da maioria dos americanos.

Mas, segundo explica agora, dias depois Sulzberger telefonou-lhe “para casa e, com uma raiva gelada que ainda me intriga e entristece, exigiu a minha demissão. Eu também me zanguei e disse que ele teria de me despedir. Mais tarde, pensei melhor sobre isso. Voltei a ligar-lhe e concordei em demitir-me, convencendo-me de que estava a ser nobre."

Bennet abordou ainda, neste artigo, as falhas apontadas na nota do editor sobre o artigo de opinião de Cotton, dizendo que a nota foi "muito mais longe no repúdio do artigo do que eu esperava, dizendo que nunca deveria ter sido publicado". 

Neste artigo com mais 17 mil palavras, Bennet critica o Times e o jornalismo em geral por não cumprir "compromissos de integridade e abertura de espírito".

"O problema do Times transformou-se em metástase, passando de um preconceito liberal para um preconceito iliberal, de uma inclinação para favorecer um lado do debate nacional para um impulso para encerrar completamente o debate".

O artigo pode representar uma visão enviesada e da qual se discorda, mas descreve uma outra perspectiva do momento tumultuoso do Times e apresenta reflexões de Bennet sobre a objectividade e o papel do jornalismo na democracia.