Alunos de jornalismo fazem investigação e a diferença nos EUA

No último ano, nos EUA, jovens jornalistas têm produzido jornalismo de qualidade com investigações que levaram à demissão do presidente da Universidade de Stanford e do treinador de futebol americano da Universidade de Northwestern. Além de terem exposto as condições de trabalho tóxicas de uma universidade e realizado investigações a fundos roubados noutra, estes estudantes estão a responsabilizar as pessoas no poder, sem medo de fazer jornalismo de qualidade, muitas vezes enquanto lidam com ameaças e assédio.
São estes “estudantes universitários – muitas vezes não remunerados – que mantêm a chama viva com um jornalismo digno de nota”, escreve David Bauder, num artigo publicado na AP.
Theo Baker é um estudante do segundo ano da Universidade de Stanford cujos artigos levaram a uma investigação universitária e à eventual demissão do presidente de Stanford, Marc Tessier-Lavigne.
O trabalho de Baker, enquanto caloiro, valeu-lhe um "Prémio George Polk" em jornalismo, a primeira vez que Polk distinguiu o trabalho de um jornal independente gerido por estudantes.
Também uma entrevista a jogador de futebol americano, publicada pelo "Daily Northwestern", sobre alegadas praxes foi fundamental para o despedimento do treinador Pat Fitzgerald.
Charles Whitaker, reitor da escola de jornalismo "Medill" da Northwestern, admitiu ter ficado preocupado quando soube da história em que o Daily Northwestern estava a trabalhar. No entanto, os membros da equipa foram minuciosos e profissionais, tendo o cuidado de corroborar as histórias que ouviram, segundo o reitor, que se afirma orgulhoso do trabalho dos estudantes.
O "Columbia Daily Spectator" de Nova Iorque conduziu uma investigação de meses que revelou condições de trabalho tóxicas no departamento de segurança pública da universidade.
Já em Stanford, a história de Baker sobre Tessier-Levigne, valheu-lhe um prémio mas também muitas complicações.
Segundo contou, recebeu ameaças de acções judiciais e os professores chamavam-no à parte para dizer que estavam impressionados com o seu trabalho, mas que tinham medo de ser vistos com ele em público.
Baker relatou ainda ter sido assediado, com telefonemas furiosos a meio da noite e ter sido ameaçado, mesmo antes da faculdade, porque é filho de dois jornalistas proeminentes, Peter Baker do "The New York Times" e Susan Glasser do "The New Yorker".
Perante estes relatos, a "College Media Association" está a estudar formas de ajudar os alunos.
Com os meios de comunicação locais a sofrerem cortes, Bauder refere que os jornais universitários também estão a cobrir mais do que os campus. O "Daily Tar Heel" cobre também a cidade vizinha de Chapel Hill. O "Columbia Daily Spectator" faz reportagens sobre os bairros de Morningside Heights, West Harlem e Upper West Side, em Manhattan. A Universidade do Texas em Austin permite aos estudantes cobrirem temas do Governo do Estado para agências de notícias em todo o Texas.