Há uma nova prática do jornalismo e dos jornalistas na sua relação com a sociedade
Numa reflexão sobre as questões enfrentadas pelo jornalismo na era digital, Castilho destaca a nova relação do jornalismo e dos jornalistas com a sociedade, as comunidades de trabalho como forma de exercício da actividade jornalística e a notícia vinculada à produção, como três questões fundamentais, no conjunto de novas práticas e teorias que já estão a definir a forma como a produção noticiosa é hoje desenvolvida.
O autor salienta como a actividade jornalística na era digital está a deixar de ser financiada por publicidade paga, para depender do apoio de pessoas que necessitam de dados e factos para tomarem decisões. Isso representa uma mudança fundamental na actividade noticiosa, porque “até agora a maioria esmagadora dos jornalistas tinha em mente o establishment e os seus patrões na hora de produzir uma notícia, comentário, entrevista ou investigação”
No entanto, “a prioridade no relacionamento com as pessoas ainda é um comportamento pouco presente na actividade jornalística, mas as redes virtuais ampliaram consideravelmente o alcance dos novos ecossistemas informativos forçando o surgimento de pautas noticiosas mais vinculadas aos interesses dos segmentos tradicionalmente excluídos do debate público”.
O autor também destaca a rápida multiplicação de softwares e estruturas de interacção entre jornalistas e comunidades, o que reforça a tendência de inovação no âmbito das novas práticas do jornalismo contemporâneo. “Há necessidade de que os cursos de jornalismo, levem esta discussão para as salas de aula, no mínimo para incentivar a interactividade entre professores e alunos. E, nesse sentido, há uma urgência na abertura de fóruns dentro das redacções e fora delas para que repórteres, editores, comentaristas, programadores e designers percebam como os ecossistemas informativos estão a mudar em todo o mundo”.
Castilho, também, salienta a importância do jornalismo local como uma função social insubstituível em situações extremas, como no caso da tragédia de São Sebastião, no litoral de São Paulo, onde a falta de canais de informação jornalística local e hiperlocal deixou os moradores sem informações sobre o problema que estavam a enfrentar. O autor destaca como as pessoas podem vir a sustentar um jornal local desde que ele se torne indispensável para o bem-estar da população.
Estamos perante uma necessidade de inovação e adaptação das práticas jornalísticas para acompanhar as mudanças nos ecossistemas informativos.
“O que ganha cada vez mais urgência é o fato de que estamos a ser atropelados pelas mudanças tecnológicas como a que já estão em agenda como o uso da inteligência artificial para produção de conteúdos jornalísticos e a chegada em breve da computação quântica”, afirma.
“A inovação tecnológica move-se por uma dinâmica própria e o jornalismo precisa assumir que o seu papel é de mediador entre a tecnologia da informação e as necessidades das pessoas”, conclui Carlos Castilho.