“GQ” retira peça após reclamações da “Warner Bros. Discovery”

“Não é incomum que uma agência de notícias actualize uma história. Mas, se rever o tom de uma história é incomum, remover uma história por completo, é raro”, afirma o jornalista Tom Jones, num texto seu, publicado no Poynter.
“Algo incomum, muito incomum, aconteceu no mundo do jornalismo esta semana”, continua.
A GQ publicou uma análise acerca de David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery. O artigo “estava longe de ser lisonjeiro”.
O artigo comparava Zaslav ao personagem de Richard Gere, em “Pretty Woman”, bem como ao personagem Logan Roy, em “Succession”, da HBO. A história dizia: "Num curto espaço de tempo, David Zaslav tornou-se, talvez, o homem mais odiado de Hollywood."
Depois desta publicação, a equipa de Zaslav fez uma reclamação acerca da análise publicada pela GQ, o que “levou a extensas alterações na história”, conta Jones.
No entanto, quando o redactor tomou conhecimento do texto revisto e verificou que haviam sido feitas várias correcções ao seu trabalho, pediu à GQ para remover a sua assinatura.
“Agora, aqui está a parte muito incomum: a GQ retirou a peça completamente”, conta Tom Jones. E “isso é tudo o que sabemos”, acrescenta.
O jornalista faz, o que considera, a “questão-chave”: “será que a GQ cedeu às reclamações do poderoso Zaslav, retirando a história do seu site?”.
Tom Jones refere “uma declaração oficial da GQ para Ben Mullin, do The New York Times”, que terá explicado a situação da seguinte forma: “após uma revisão ter sido publicada, o autor da peça pediu para remover a sua assinatura, momento em que a GQ decidiu cancelar a publicação da peça em questão. A GQ lamenta o erro editorial que levou uma história a ser publicada antes de estar pronta.”
De acordo com as fontes de Mullin, a GQ contratou Jason Bailey, um jornalista freelancer, para escrever um artigo de análise sobre o motivo pelo qual Zaslav era "o homem mais odiado de Hollywood".
Bailey escreveu a peça original, e surgiram as reclamações da Warner Bros. Discovery.
Segundo uma declaração dada a Will Sommer, do The Washington Post, um porta-voz da GQ disse que a história “não foi editada adequadamente antes de ir para o ar”.
Por outro lado, a Warner Bros. Discovery disse que “o repórter freelancer não fez nenhuma tentativa de entrar em contacto com a Warner Bros para confirmar a substância da peça antes de a publicar - uma prática padrão para qualquer reputado meio noticioso. Também como prática-padrão entrámos em contacto com a agência e pedimos que inúmeras imprecisões fossem corrigidas. Durante esse processo, os editores decidiram, por fim, retirar a peça”.
Bailey, por seu lado, disse a Sommer que não queria comentar, mas contestou que houvesse “inúmeras imprecisões”.
A Mullin, o jornalista freelancer declarou não ter participado nas revisões do texto, mas que deu a sua permissão aos editores para fazerem alterações. Depois de ter visto essas mudanças, Bailey opôs-se e quis que o seu nome fosse retirado.
A frase "o homem mais odiado de Hollywood" foi removida e substituída por "Zaslav tornou-se a cara de um novo período controverso em Hollywood". Já na segunda revisão, o texto deixou de ter referências a “Succession” ou “Pretty Woman”.
“Escrevi o que senti ser a história para a qual fui contratado. Quando me pediram para reescrevê-la após a publicação, recusei. A reescrita que foi feita não foi do meu agrado, então pedi para remover o meu nome e disseram-me que havia a opção de retirar o artigo inteiramente, e por mim, tudo bem”, explicou Bailey.
“Em geral, e sem fazer julgamento sobre a história da GQ, é melhor deixar cair uma história, do que deixar uma falha. Mas a questão aqui é que, se a GQ não estivesse satisfeita com a história, ela nunca deveria ter sido publicada até que fosse devidamente editada”, considera Tom Jones.
“O melhor que se pode dizer sobre este assunto, é que a GQ publicou uma história antes de estar pronta”, diz o jornalista.
“O pior é que a GQ deitou abaixo a história, porque Zaslav simplesmente não gostou. Não estou a dizer que foi o que aconteceu aqui, mas isso seria uma irresponsabilidade jornalística”.
“Existe alguma conexão entre Warner Bros. Discovery, Zaslav e GQ?”, pergunta Jones. “Bem, Sommer escreveu no Post que a “GQ tem uma ligação corporativa com a Warner Bros. Discovery. A empresa-mãe da revista Condé Nast, é propriedade da Advance Publications, um dos principais acionistas da Warner Bros”, afirma.
“No entanto, não há indicação de que a Advance esteja envolvida em qualquer uma destas controvérsias”, acrescenta.
Por outro lado, Tatiana Siegel, da Variety, disse que “o editor-chefe da GQ, Will Welch, está a produzir um filme na Warner Bros, intitulado 'The Great Chinese Art Heist', baseado num artigo da GQ”, cita o jornalista.
“Fontes dizem que Welch estava envolvido nas discussões em torno da eliminação da história inicial de Bailey e fez a chamada para retirar a história revista, que tinha cerca de 500 palavras a menos do que a versão publicada. Essas mesmas fontes dizem que a Warner Bros. Discovery fez a sua reclamação sobre a história original a dois editores da GQ, um dos quais era Welch”, afirmou Siegel.