Num artigo publicado no “Observatório da Imprensa” - com o qual o CPI mantém um acordo de parceria - Carlos Wagner aborda a perda de qualidade nos jornais devido à burocratização no acesso do leitor ao repórter, fundamentando a sua opinião com experiências pessoais do autor ao longo de sua carreira como repórter.

“É indignação de um velho repórter estradeiro que compreendeu que as dificuldades criadas pelos dirigentes dos jornais para evitar o contacto directo entre o repórter e o leitor que procura a redacção em busca de uma solução para os seus problemas do quotidiano prejudicou a qualidade das matérias”, escreveu.

O autor, um experiente repórter, lamenta a falta de contacto directo entre repórteres e leitores, destacando que a restrição imposta pelos jornais prejudicou a qualidade dos artigos.

Wagner relembra a época em que os leitores podiam “bater” à porta da redacção para discutir as suas preocupações directamente com os repórteres, resultando frequentemente em boas reportagens.

“Frequentemente a conversa acabava em bate-boca e precisava da intervenção da turma do deixa disso. Mas na maioria das vezes rendia boas reportagens”, relembra, acrescentando que o seu “primeiro Prêmio Esso de Jornalismo foi graças a um leitor que foi na redação fazer uma reclamação”.

Wagner critica a afirmação de que a imprensa ouve os leitores, considerando-a falsa: “Conversa para boi dormir, como diz o dito popular. As reclamações primeiro são checadas para averiguar se são verdadeiras, com o que eu concordo. Depois passam por um filtro que retira a indignação do leitor, o que considero uma sacanagem. Se o leitor pedir para falar com o chefe do repórter, o editor, dificilmente conseguirá, porque esse personagem passa o dia inteiro em reunião”.

Para o autor, esta falta de acesso directo à imprensa contribuiu para a falta de soluções dos problemas enfrentados pela população durante uma tempestade em São Paulo, onde a empresa de energia Enel foi alvo de críticas pela lentidão na resolução de problemas após a tempestade.

Wagner relembra a eficácia da imprensa em expor questões de má prestação de serviços por parte de empresas, dando como exemplos o sector de energia eléctrica no Rio Grande do Sul. 

O autor destaca a necessidade de os média terem um site dedicado a atender as reclamações dos consumidores, proporcionando um espaço para que partilhem as suas experiências e expressem as suas frustrações.

Para Wagner, as novas tecnologias não estão a facilitar a vida do consumidor, nomeadamente em contar estas histórias aos jornalistas, e salienta que nada substitui a comunicação directa entre o jornalista e o leitor.