A Global Media decidiu avançar com um processo de despedimento colectivo, noticia o Eco. A direcção do Diário de Notícias também foi demitida na terça-feira, dia 12 de Março.

A nova administração do Global Media Group declarou, num comunicado citado pelo Eco, que “a situação actual era insustentável tanto do ponto de vista financeiro como do ponto de vista da equidade com os profissionais que há muito tempo mantêm viva a chama editorial do Diário de Notícias. Por isso se impunha esta decisão, que visa também lançar um projecto renovado para o DN que será desenvolvido em articulação profunda com a actual redacção”.

As demissões afectam principalmente pessoas contratadas por João Paulo Fafe, o ex-CEO do Grupo, e envolvem 17 profissionais, incluindo sete jornalistas, avança o Meios & Publicidade. Os jornalistas envolvidos no processo de despedimento colectivo ficam por mais 45 dias, informou o novo CEO, Vítor Coutinho.

Em Fevereiro, numa entrevista ao Público, Marco Galinha, presidente do conselho de administração do Grupo garantiu que, apesar de haver “muitos cortes a fazer” na redacção do DN, esses cortes não seriam nos jornalistas, “mas em termos estruturais”, lembra o Eco.

No comunicado do Grupo, é ainda anunciado que “do processo de reestruturação decorre também a saída do director do Diário de Notícias, José Júdice, bem como da restante direcção”. Bruno Contreiras Mateus, actual director do Dinheiro Vivo, será o director interino do DN até Julho.

Para Ana Cáceres Monteiro, subdirectora do DN e um dos elementos demitidos esta semana, “isto não é um despedimento colectivo, é um saneamento, é a ‘limpeza’ das pessoas que estavam afectas à anterior administração”.

O último editorial de José Júdice

“É hoje o último dia em que a equipa que está no cabeçalho do jornal dirige o Diário de Notícias”, começa por dizer o agora ex-director José Júdice num editorial publicado no dia 13 de Março no DN. “Desde 13 de Novembro até 13 de Março foram apenas quatro meses, mas quatro meses em que o esforço, que por vezes raiava a insanidade, de fazer sair todos os dias um jornal com uma redacção reduzida ao esqueleto foi mais do que compensado pelo prazer de trabalhar com uma equipa dedicada”, continua.

José Júdice lembra que com a nova administração foram contratados 11 jornalistas para reforçar a redacção do DN. “Com três saídas entretanto efectuadas para outros títulos do Grupo, o saldo dos ‘reforços no DN’ foi de oito jornalistas”, lembra, criticando, depois, as acusações feitas no momento das contratações, pois em simultâneo o JN estava a passar por um processo de despedimento colectivo. “Era com esta multidão que, como foi dito, o Diário de Notícias era uma flor que crescia sobre o anunciado cadáver do JN”, atira.

Depois de três meses em que o jornal “tentou ser mais plural, abrindo as suas páginas a outras caras e outras vozes que não os engravatados do costume e os encartados dos favores escondidos e da publicidade encapotada, e que procurou mais reportagem, mais análise, mais país e mais mundo”, o ex-director considera que “a maneira como todo o processo de despedimento foi conduzido nada augura de bom”. Segundo José Júdice, a nova administração “nunca falou com a direcção do jornal” e a comissão executiva “só a chamou uma semana após entrar em funções para lhe indicar a porta da rua”.

Por tudo isto, o futuro do DN “volta a ter um ponto de interrogação”, considera o ex-director.

(Créditos da fotografia: Manuelvbotelho na Wikicommons, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=23751371)