Recentemente, o director da revista Le Point, Etiene Gernelle, revelou um "projecto de reorganização" que inclui a eliminação de 32 cargos permanentes e 26 cargos de freelancers regulares. O departamento de correcção e revisão será o mais afectado por esta reestruturação. 

Os colaboradores da Le Point ficaram chocados com o impacto do plano social. Segundo o Le Monde, este plano é quase o dobro das 30 saídas registadas no último plano social de 2014. Ainda que 18 novas posições sejam criadas, com algumas transformações de cargos, jornalistas do semanário descreveram o cenário como um "verdadeiro banho de sangue". 

O maior impacto será no departamento de correcção e revisão, que passará de 18 para apenas três colaboradores. A justificação dada pela direcção é o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), que poderão realizar parte das tarefas de correcção de textos, embora sob supervisão humana. 

Com o projecto de reorganização, o director da Le Point propõe uma estratégia de "ascensão e singularização", procurando reduzir a dependência das grandes plataformas digitais e da corrida pela actualidade. Parte dessa mudança já foi implementada, com a revista a deixar de publicar reportagens jornalísticas no seu site desde Janeiro. 

A transformação proposta pela direcção está a ser recebida com cepticismo por muitos no interior da redacção. Um colaborador comentou que o "plano social prejudicará a redacção e não permitirá que ela produza um jornalismo melhor", destacando que 52 dos 58 cargos cortados são de jornalistas, enquanto apenas seis dizem respeito a funções de apoio. 

Internamente, também se questiona a possível mudança na linha editorial da revista, que alguns percebem como uma inclinação para posições mais conservadoras, algo que Gernelle rejeita, afirmando que a orientação editorial da Le Point continua a ser "liberal e pró-europeia", como sempre foi desde 1972. 

A direcção da revista também tem como objectivo aumentar o número de assinaturas digitais e está a considerar criar uma publicação trimestral. O Le Monde avança que as negociações com os sindicatos devem começar nas próximas semanas e “prometem ser tensas”. 

(Créditos da imagem: Wikimedia Commons)