Os títulos noticiosos mais simples parecem captar mais os leitores, mas os jornalistas têm padrões de preferência diferentes.

Os resultados são de um estudo intitulado “Reading dies in complexity: Online news consumers prefer simple writing” (“A leitura morre na complexidade: Os consumidores de notícias online preferem uma escrita simples”, numa tradução livre), divulgado pelo site The Journalists’ Resource e inicialmente publicado na revista Science Advances.

Mesmo artigo, diferentes títulos

Na investigação, foram analisadas centenas de milhares de títulos do jornal tradicional The Washington Post (WP) e do Upworthy, considerado um site noticioso não tradicional.

Para testar que tipo de título os leitores preferem, os sites, às vezes, atribuem títulos diferentes para os mesmos artigos — uma parte dos visitantes vê o título A, e outra parte vê o título B.

Os autores do estudo agora divulgado examinaram quase 20 mil títulos de artigos publicados no WP entre Março de 2021 e Dezembro de 2022, e mais de 100 mil títulos publicados no Upworthy entre Janeiro de 2013 e Abril de 2015.

A complexidade dos títulos foi avaliada tendo em conta, entre outros factores, o tamanho das palavras e se estas eram comuns ou não, o estilo formal ou informal das frases e a sua complexidade, e o número de caracteres dos títulos.

As principais conclusões

Embora o efeito não seja muito acentuado, os autores referem que os títulos mais simples estão associados a um maior número de cliques por parte do público.

“Os leitores de notícias têm maior probabilidade de clicar e de interagir com títulos simples do que com títulos complexos”, dizem os autores. Os resultados foram no mesmo sentido nos dois jornais estudados.

Num jornal como o WP, que chega a um grande número de pessoas, mesmo uma pequena diferença percentual pode significar que uma notícia com um título mais simples é lida por mais dezenas de milhares de pessoas.

Mas a diferença não está necessariamente na extensão do título.

Os factores “associados a maior número de cliques” foram “o uso de palavras comuns, um estilo mais informal e uma construção frásica mais simples”, segundo o estudo.

Por exemplo, numa peça sobre a entrevista de Oprah Winfrey ao duque e à duquesa de Sussex, em Março de 2021, o título com 14 palavras — “Meghan and Harry are talking to Oprah. Here’s why they shouldn’t say too much” — foi considerado mais simples do que o título com 13 palavras — “Are Meghan and Harry spilling royal tea to Oprah? Don’t bet on it”.

As preferências dos jornalistas

O estudo envolveu, ainda, a aplicação de um inquérito a um grupo de 249 escritores profissionais, muitos deles ex-jornalistas ou ainda a exercer jornalismo.

A experiência consistia em pedir aos participantes que identificassem, entre os títulos apresentados, aqueles em que mais provavelmente clicariam num site de notícias.

Os dados mostram uma diferença “notável” relativamente aos resultados dos leitores, uma vez que os escritores e os jornalistas inquiridos não revelaram preferência pelos títulos simples em comparação com os complexos.

Estes profissionais “não são dissuadidos pela complexidade cognitiva”, diz Tom Rogers, um dos autores do estudo. “Não têm as mesmas intuições ou experiências de leitura que os leitores comuns”, acrescenta.

Nesse sentido, o investigador alerta os jornalistas para que tenham consciência de que, no que diz respeito à interpretação de títulos, a experiência dos profissionais e a experiência do público podem ser muito díspares. “Optem pela simplicidade”, sugere.

(Créditos da fotografia: Toa Heftiba no Unsplash)