Está a chegar ao fim o prazo do acordo assinado, em 2021, entre a Meta e as empresas de media australianas que obrigava a gigante tecnológica a pagar aos jornais pelas notícias partilhadas nas suas plataformas.

A empresa-mãe do Facebook já avisou que poderá vir a bloquear os links e as páginas de notícias nas suas redes, se for obrigada a pagar pela publicação desses conteúdos.

É isso mesmo que está a acontecer no Canadá, desde Agosto de 2023, quando entrou em vigor uma legislação semelhante.

A Austrália poderá precisar de olhar para o outro lado do oceano para prever as consequências, explica um artigo publicado no Nieman Lab.

O que está em causa?

O acordo entre a Meta e os jornais agora em vigor na Austrália surgiu como alternativa a uma legislação aprovada naquele país que força as grandes empresas tecnológicas a compensar as organizações de media pela facturação com publicidade, uma vez que as grandes tecnológicas ficam com as receitas geradas pelos conteúdos produzidos por outros.

A Meta estava isenta de cumprir esta legislação, por ter negociado outra forma de pagamento aos jornais. No entanto, esse acordo termina este ano [2024], e a Meta já anunciou que não o irá renovar.

Caso não renove, ou a empresa fica sujeita à legislação ou o Governo australiano permite que o acordo expire sem consequências. “Esta última opção esvaziaria de significado o News Media Bargaining Code como peça legislativa”, lê-se no artigo.

Contudo, obrigar a Meta a pagar às organizações de media irá, com probabilidade, trazer consequências negativas para os próprios jornais, uma vez que a proprietária do Facebook e do Instagram está a ameaçar fazer o mesmo que fez como resposta à legislação canadiana no ano passado.

A experiência do Canadá

Tal como se pode ler no relatório The Canadian Information Ecosystem, publicado no final de 2023, o bloqueio aos links e páginas de organizações noticiosas no Facebook e no Instagram no Canadá teve alguns efeitos negativos no ecossistema mediático.

A legislação não só não levou ao pagamento de compensações aos jornais por parte da Meta, como ainda provocou uma redução drástica, nos sites noticiosos, do tráfego com origem nas redes sociais.

Os estudos apontam para uma diminuição na ordem dos 90%, quando comparado com o período pré-bloqueio, em que as páginas noticiosas no Facebook geravam cinco a oito milhões de visualizações por dia.

Nalguns casos, surgiram algumas técnicas para dar a volta ao problema, como a publicação de capturas de ecrã das notícias, mas a estratégia não compensa a perda de tráfego.

A situação actual prejudica especialmente as publicações locais e regionais, para as quais as plataformas são espaços fundamentais para a disseminação das notícias, deixando essas populações com ainda menor acesso a informação.

O futuro incerto das notícias nas redes sociais na Austrália

Apesar do impacto nas empresas de media, a Meta sabe que a utilização das redes sociais não sairá muito prejudicada com a retiradas dos links de notícias.

Actualmente, os conteúdos noticiosos são uma parte muito pequena do tráfego gerado nas plataformas digitais e exigem muito trabalho de moderação nos comentários pela controvérsia que provocam.

Além disso, os utilizadores não parecem notar muita diferença. Por um lado, as redes sociais são usadas para muitos outros objectivos que não o acompanhamento de notícias. Por outro, uma análise durante um bloqueio temporário às notícias na Austrália em Fevereiro de 2021 revelou um impacto diminuto nos padrões de interacção com as páginas de Facebook. “Muitos utilizadores podem até nem ter notado que não apareciam notícias nos seus feeds”, diz o artigo.

O autor, Alex Bruns, professor de indústrias criativas numa universidade australiana, sugere que a solução não é pôr em prática o News Media Bargaining Code, a tal legislação que obriga a pagar compensações, porque esta medida tem muitas falhas e não resolve o principal problema: a falta de receitas no modelo de negócio dos media.

“Uma opção poderia ser usar os impostos pagos pelas plataformas digitais para apoiar o jornalismo de interesse público produzido pelas organizações de media australianas”, propõe o autor, lembrando que tal medida implica definir uma abordagem sólida daquilo que é considerado “jornalismo de interesse público”.

(Créditos da imagem: Bastian Riccardi no Unsplash)