A mudança é uma consequência directa da digitalização da notícia. Até ao aparecimento da internet, o jornalismo dependia basicamente de empresas capazes de imprimir jornais e revistas, de emissoras de rádio ou TV. O jornalista tornou-se num assalariado integrante de uma linha de produção com características industriais, contexto que, segundo o autor, determinou um conjunto de rotinas, regras e valores.

Quando as novas tecnologias digitais alteraram drasticamente a forma como as notícias passaram a ser investigadas, redigidas e disseminadas, as empresas jornalísticas perderam o monopólio da utilização do jornalismo como a sua principal fonte de rendimento.

Multiplicaram-se os profissionais autónomos, graças a recursos como blogs, páginas na Web, sites de mensagens noticiosas, e, surgiram as redes sociais digitais que passam a ser a principal fonte de informação do público mais jovem.

As transformações afectaram a forma como os jornalistas passaram a inserir-se na sociedade. Deixaram de ser meros provedores de notícias para se se converterem num em elo indispensável no vai e vem de dados, factos e eventos em circulação na internet.

De acordo com Castilho estamos a viver num ambiente movido a notícias. Até mesmo as conversas pessoais entre utilizadores de redes sociais são alimentadas por notícias, colhidas ou não em órgãos da comunicação.

A observação sociológica dos fluxos de mensagens em redes sociais mostrou que eles passaram a girar em torno de notícias, o que acabou por criar uma relação entre jornalistas e o público. Esta relação sempre existiu, mas era muito débil e ocasional. Agora, na era digital, tornou-se constante como se pode observar no Twitter, WhatsApp, Instagram, entre outros.

Os jornalistas, passaram a ser simultaneamente produtores e consumidores de notícias o que os obriga a desenvolver todo um novo conjunto de procedimentos, normas e valores. O campo da produção de notícias foi ampliado para além das práticas de redacção, edição e publicação. A nova realidade do jornalismo contemporâneo obriga a resolver questões como sustentabilidade financeira, combate às fake news, co-produção de notícias com não jornalistas, robotização e narrativas multimédia.

O relacionamento entre profissionais e não jornalistas, dentro do sistema informativo, encontra-se definido como uma estrutura pública de comunicação. Esta é uma perspectiva capaz de mudar os rumos da profissão, já que a relação dos profissionais com o seu público passa a ser muito mais intensa e directa do que num jornal impresso tradicional.

O facto de estarem metidos no meio de uma transformação radical da sua profissão faz com que muitos jornalistas ainda resistam às mudanças, preferindo agarrar-se ao seguro e conhecido, apesar das evidências de que as transformações são irreversíveis.

Por seu lado, o público, de forma empírica, avança cada vez mais na ocupação de espaços nos fluxos informativos digitais, especialmente, nas redes sociais digitais, onde hoje cerca de 70% das pessoas procuram informação.

Público e jornalistas passaram a partilhar os mesmos espaços noticiosos na internet, cabendo aos profissionais a tarefa específica de dar sentido prático a esta realidade, ao desenvolver uma estrutura pública de comunicação que maximize os resultados das trocas informativas entre profissionais e não profissionais, afirma Castilho.