Recentemente, uma pergunta tomou os debates entre jornalistas: “O jornalismo deve ou não tomar uma posição diante da previsível polarização ideológica nas eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos?”. A pergunta surge depois de um artigo, publicado no jornal norte-americano Philadelphia Inquirer, ter questionado sobre o papel dos média nas eleições, quando a neutralidade está a ser posta em causa por diversos atores políticos. Segundo refere Carlos Castilho, no seu texto publicado no Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém parceria, este dilema não é exclusivo dos EUA, verificando-se também no Brasil.

Para Castilho, a crise de identidade dos partidos de centro está a levar a uma redução do espaço dos jornalistas políticos e a dinâmica da polarização política empurra o jornalismo na direção da lógica do engajamento.

Castilho chega mesmo a fazer a comparação entre um jornalista político e o correspondente de guerra, sugerindo que as forças armadas exigem que os repórteres sigam os mesmos procedimentos adotados por soldados em áreas de conflito – como a utilização de uniformes, por exemplo, ou o uso de armas para autodefesa.

Na opinião do autor, tal acaba por comprometer o princípio da isenção da cobertura jornalística.

Para obter notícias relevantes e ter acesso a fontes de informação, sugere Castilho, os repórteres acabam por ter de integrar bolhas informativas montadas por candidatos e partidos.

O jornalista destaca ainda a forma como este dilema tem repercussões em coberturas eleitorais durante uma “guerra de desinformação” levada a cabo nas redes sociais, salientando que a polarização “cria uma tendência ao extremismo, na medida em que qualquer acusação ou suspeita levantada por um dos lados em conflito leva o outro a ser ainda mais radical”. Tal, segundo acredita, leva os jornalistas a terem de participar no “tiroteio informativo” durante a cobertura de processos eleitorais.

Castilho propõe, desta forma, que o jornalismo repense as suas estratégias e práticas no contexto digital das campanhas eleitorais, por forma a analisar como transmitir informações verificadas e isentas, promovendo assim o “fact checking” – cada vez mais essencial – para a desconstrução das notícias falsas.