A crise da imprensa local na cobertura das eleições nos EUA
A perda do poder da imprensa local na cobertura de eleições nacionais nos Estados Unidos da América (EUA) é tema de destaque num artigo de Cameron Joseph publicado na Columbia Journalism Review (CJR).
Segundo este jornalista, enquanto antigamente os assuntos locais dominavam as convenções e as fases iniciais das primárias, actualmente as campanhas estão cada vez mais direccionadas para a escala nacional, com os candidatos a desvalorizar a imprensa e os assuntos locais.
Ao contrário do que acontecia há 20 anos, agora “os candidatos podem ignorar o Waterloo Courier [jornal local no Iowa]”, comenta a título de exemplo Art Cullen, jornalista norte-americano e editor premiado, citado pela CJR.
Cullen recorda-se ainda de uma longa entrevista com Bob Dole, candidato presidencial republicano em 1996 (contra Bill Clinton), sobre um programa de colheita industrial. “Agora a única coisa de que [os candidatos] falam é do etanol ou de como ‘vamos pôr a China no seu lugar’. Como é que isso ajuda os 67 dos 99 condados do Iowa que estão a perder população?”, questiona o jornalista.
Um dos grandes riscos deste fenómeno, aponta o autor do artigo, é a perda de poder da imprensa local para forçar os candidatos a responder a perguntas que são importantes para os eleitores de cada região. Desta forma, também os cidadãos ficam a perder, uma vez que acabam por acompanhar cada vez menos os assuntos que os afectam particularmente.
Segundo a CJR, a tendência desta desvalorização tem-se vindo a acentuar nos últimos ciclos eleitorais e é comum aos dois principais partidos, democrata e republicano. Os candidatos ganham primárias passando pouco tempo nos estados, concentram as suas comunicações na imprensa nacional e dedicam pouco tempo às perguntas que chegam da imprensa local.
Para as eleições deste ano, James Pindell, jornalista norte-americano também citado pela CJR, acrescenta que até agora os candidatos republicanos, pelo menos, parecem estar a manter a atitude de excluir os jornais e as rádios locais das discussões.
(Créditos fotografia: Pixabay)