Num artigo publicado no NiemanLab, Joshua Benton explora a complexa tarefa de definir o que é considerado notícia, destacando como a percepção de noticiabilidade pode variar entre diferentes indivíduos. Benton salienta que as notícias não têm uma definição única, e o que é notícia para uma pessoa pode não ser para outra. As distinções entre notícias "duras" e "leves", bem como entre notícias e entretenimento, não são claras e podem variar de acordo com o público.

“Não quero ser metafísico numa terça-feira, mas esta não é uma pergunta com uma resposta óbvia. O que é notícia para si pode não ser notícia para mim. Por vezes, quando as pessoas falam de 'notícias', estão a falar de 'política e governo'. As notícias mudam à escala; um novo restaurante que abre em Zwolle, Louisiana, é "notícia" de uma forma que um novo restaurante que abre em Manhattan não é”, exemplifica.

“O principal discurso em torno das notícias nas últimas duas décadas tem sido o de as salvar. Algo que valorizamos está ameaçado. Mas mesmo antes de entrarmos em debates sobre qualidade ou importância, é difícil salvar algo quando nem sequer o conseguimos definir”, argumenta.

O autor cita duas académicas, Stephanie Edgerly e Emily K. Vraga, que investigaram a noticiabilidade e como o público avalia o que é considerado notícia e definiram a noticiabilidade como a medida pela qual o público caracteriza um conteúdo dos media como notícia.

A pesquisa de Edgerly e Vraga explora como diferentes grupos etários entendem a noticiabilidade e a relevância das notícias e descobriram que as histórias que refletem a vida de um grupo demográfico são consideradas mais relevantes e noticiosas por esse grupo. 

No entanto, a relevância também afecta a noticiabilidade entre adultos de diferentes idades. Isso sugere que as notícias que representam grupos semelhantes ao público têm mais probabilidade de serem consideradas notícias.

Edgerly e Vraga definiram a noticiabilidade de forma simples: "a medida em que as audiências caracterizam um conteúdo específico dos media como notícia", mas quem tem a autoridade de decisão nesta concepção: o público, os leitores, os telespectadores, os ouvintes, e não os jornalistas.

Estes resultados têm implicações para a produção de notícias, destacando a importância da representação de diversos grupos na cobertura de notícias. Segundo a investigação, as notícias que apresentam pessoas semelhantes ao público são mais propensas a serem consideradas notícia, o que pode ajudar a reduzir o fosso entre as audiências jovens e as organizações de notícias.

Assim, a representação de grupos semelhantes ao público nas notícias pode aumentar a noticiabilidade e a relevância, desempenhando um papel importante na forma como as notícias são percebidas e valorizadas.

Além disso, os resultados da pesquisa destacam a importância da diversificação das notícias para atender às necessidades de diferentes grupos demográficos, já que a falta de representação adequada nas notícias pode levar a uma desconexão entre as audiências, especialmente os jovens, e as organizações de notícias. Portanto, as organizações de notícias podem beneficiar ao publicar histórias que representam grupos semelhantes ao público, tornando as notícias mais relevantes e acessíveis para uma variedade de audiências.

Segundo as investigadoras conceito de noticiabilidade relaciona-se com a avaliação do grau em que algo é considerado notícia, mas enfrenta desafios significativos devido à evolução dos meios de comunicação, especialmente devido aos media híbridos. 

A pesquisa destaca três componentes importantes da noticiabilidade:

1)        O carácter noticioso é definido pelo público, não pelos produtores de notícias.

2)        O carácter noticioso não é uma avaliação binária de "sim" ou "não", mas uma avaliação que leva em conta o grau de noticiabilidade.

3)        O carácter noticioso é julgado com base em exemplos específicos de média, aproveitando o "instinto" e o "esquema mental" das pessoas em relação às notícias.

Segundo as investigadoras, estudos anteriores revelaram que as pessoas são capazes e estão dispostas a emitir juízos sobre se exemplos específicos devem ser considerados notícias, mas têm dificuldade em fornecer definições concretas de notícias. 

“Por outras palavras, as notícias podem ser difíceis de definir, mas as pessoas reconhecem-nas quando as veem. A noticiabilidade capitaliza este facto”, refere o estudo.

Vraga e Edgerly publicaram, recentemente, um artigo de seguimento que visa examinar a noticiabilidade num contexto experimental e que se intitula "Relevance as a Mechanism in Evaluating News-Ness among American Teens and Adults" ( “A relevância como mecanismo de avaliação da atualidade entre adolescentes e adultos americanos”).

“As definições de notícia são cada vez mais complicadas no ambiente mediático actual, o que torna particularmente importante a avaliação da audiência sobre o carácter noticioso - o grau em que algo é considerado notícia. Com base na literatura sobre a representação nas notícias e o carácter noticioso, exploramos a forma como ver notícias que apresentam um grupo etário semelhante afecta as avaliações do carácter noticioso. Defendemos também que a relevância é um mecanismo psicológico que explica a forma como as audiências avaliam o carácter noticioso das notícias”, explicam.

“Utilizando duas experiências com adolescentes e adultos nos Estados Unidos, os nossos resultados confirmam que a proximidade (em termos de idade) dos grupos representados nas notícias afecta as avaliações das audiências sobre a noticiabilidade, com a relevância a atuar como mediador na ligação entre a proximidade e a noticiabilidade. Estes resultados são replicados em todos os temas e entre adolescentes e adultos americanos. Discutimos a importância da representação e da relevância como iniciativas estratégicas para envolver as pessoas nas notícias”, refere o estudo.

Benton questiona se “será que a representação nas notícias que as pessoas veem as torna mais propensas a considerá-las "notícias" ou até mesmo a conceder-lhes uma espécie de estatuto mental elevado como importantes, ou talvez até dignas de serem pagas”.

Os adolescentes e os jovens adultos têm padrões de consumo dos media muito diferentes dos das pessoas de meia-idade ou mais velhas e queixam-se de não verem as suas vidas reflectidas nos principais meios de comunicação social – e de quando as veem estarem filtradas através de uma “lente catastrofista de preocupação parental",

Então, esta experiência das investigadoras foi concebida para avaliar dois conceitos relacionados mas distintos: novidade e relevância, já que uma história pode ser indubitavelmente noticiosa mas não ser relevante para a vida do leitor, ou vice-versa. 

Vraga e Edgerly escolheram dois temas gerais - saúde mental e dinheiro - e criaram histórias sobre cada um deles que pensaram estar em sintonia com diferentes grupos etários. As histórias sobre dinheiro eram sobre dívidas de empréstimos a estudantes ou poupanças para a reforma; as histórias sobre saúde mental eram sobre depressão ou Alzheimer.

Os resultados enfatizaram a importância da representação de grupos semelhantes ao público nas notícias, sendo que histórias que apresentavam pessoas semelhantes ao público-alvo foram percebidas como mais relevantes e, portanto, mais noticiosas - o que se aplicou a adolescentes, adultos jovens e adultos mais velhos.

As investigadoras destacaram no estudo recente terem identificado “falhas por parte das organizações noticiosas em garantir que todos os grupos vejam as suas preocupações incluídas e legitimadas na cobertura noticiosa”. 

Os resultados sugerem que a diversificação das histórias, incluindo diferentes grupos demográficos, torna as notícias mais identificáveis e relevantes para diversos públicos. Portanto, os media podem beneficiar ao considerar esses fatores para escolher quais as histórias a contar e como contá-las.