Espanha, juntamente com os Estados Unidos, são países de refúgio para centenas de jornalistas venezuelanos, cubanos e centro-americanos.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou, pela primeira vez, um mapa dos fluxos migratórios de jornalistas forçados ao exílio por motivos de segurança, bem como dos países que acolhem esses profissionais exilados. Os territórios de refúgio que os acolhem estão localizados principalmente na Europa e na América do Norte.

Ameaçados ou perseguidos por causa da sua profissão, os jornalistas são forçados a fugir dos seus países. O mapa que a RSF traçou, com base em dados da sua Área de Assistência e em informações recolhidas nos últimos cinco anos pelos escritórios regionais da organização, mostra que o exílio de jornalistas é um fenómeno global.

Este mapa é um reflexo indirecto dos conflitos armados na Europa (Ucrânia), África (Sudão) ou Oriente Médio (Síria), bem como das recentes tensões políticas que desencadearam um aumento da repressão sobre jornalistas críticos e/ou independentes pelo mundo.

De acordo com a nota da RSF, centenas de jornalistas russos fugiram do seu país, onde cobrir histórias estreita ou remotamente relacionadas à guerra na Ucrânia pode levá-los à prisão. Muitos desses jornalistas encontraram refúgio na vizinha Geórgia, nos países vizinhos bálticos ou na União Europeia, em particular na Polónia, Alemanha e França.

Centenas de repórteres também foram forçados a fugir do Afeganistão, que caiu nas mãos do regime talibã em agosto de 2021, bem como da Birmânia, onde a junta militar recuperou o poder. Na Ásia, pelo menos 100 jornalistas fugiram da implacável repressão do regime de Pequim em Hong Kong, nos últimos três anos, onde a adopção da Lei da Segurança Nacional obrigou jornais independentes como o Apple Daily a cessar as suas actividades.

Alguns jornalistas conseguem cruzar oceanos e refugiar-se directamente nos Estados Unidos e no Canadá, mas a maioria é forçada ao exílio em duas etapas, informa a RSF.

Em primeiro lugar, quando se encontram numa situação de emergência, os jornalistas procuram refúgio nos países vizinhos. Mas a situação política ou económica desses países nem sempre lhes permite que se estabeleçam nesses locais a longo prazo.

A abertura das fronteiras, por razões humanitárias, facilitou o exílio de dezenas de jornalistas sírios para a Turquia (classificado em 165º lugar entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa), muitas vezes confinados em campos de refugiados, mas esses profissionais vivem, agora, sob a ameaça de serem expulsos para o seu país de origem. A mesma situação acontece na Tailândia, onde muitos jornalistas birmaneses se refugiam, mas que ameaça regularmente mandar alguns de volta para o seu país, que se tornou a segunda maior prisão do mundo para os jornalistas, depois da China.

O mesmo país pode se tornar um refúgio para alguns e um perigo para outros. O Egipto, por exemplo (166º de 180 no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa), é uma das maiores prisões para jornalistas do mundo - com 20 profissionais de media detidos arbitrariamente. No entanto, o país acolheu, recentemente, cerca de 40 jornalistas do Sudão, desde que começaram os combates entre duas facções do exército.

Um país anfitrião também pode tornar-se um lugar de perigo, como é o caso da Ucrânia, onde jornalistas bielorrussos se refugiaram após a repressão do regime de Lukashenko.

Segundo os dados, o exílio não significa o fim da insegurança e das ameaças. Vários jornalistas iranianos refugiados - particularmente no Reino Unido, onde vários meios de comunicação conhecidos estão no exílio - estão sob pressão e ameaças crescentes.

De facto, não são apenas os profissionais isolados que vão para o exílio. Na Nicarágua, o governo autoritário de Daniel Ortega levou toda a redacção do jornal independente La Prensa a fugir clandestinamente do seu país, principalmente para a Costa Rica, de onde vários meios de comunicação operam hoje, no exílio. A Espanha e os Estados Unidos também são países de refúgio para centenas de jornalistas venezuelanos, cubanos e centro-americanos.

Ajudar os jornalistas no exílio é uma das preocupações da RSF, que ajudou a lançar o JX Fund, um fundo de apoio aos jornalistas no exílio, cujo objectivo é apoiar os profissionais da informação a continuarem o seu trabalho, de forma rápida e pontual, após a fuga de zonas de guerra e conflito.

Por outro lado, das 363 ajudas financeiras concedidas, desde o início de 2022, pela Área de Assistência da organização a jornalistas de 42 países, 70% foram destinadas a jornalistas no exílio. Além disso, a RSF também enviou mais de 400 cartas de apoio para pedidos de visto e pedidos de asilo.