Os autores do relatório consideram que a crença no valor da informação justa não será restabelecida pelo apelo à objectividade, mas pelo fortalecimento de outros critérios. "Isso requer uma nova visão: uma visão que substitua a 'objectividade' antiquada por uma articulação mais relevante dos padrões jornalísticos", afirmam.

O estudo propõe seis linhas de orientação para substituir a objectividade e produzir conteúdos confiáveis, respeitando os valores clássicos do jornalismo:

  1. Jornalistas com independência editorial para não sofrerem pressões e poderem publicar informações verídicas

"O jornalismo, em vez de ser objectivo, deve ser 'honesto, credível e confiável”, afirmam os autores, acrescentando que o jornalismo não pode prosperar sem independência editorial. "Os jornalistas devem ter a liberdade de cobrir as notícias sem prestar atenção, temer ou tolerar pressões da administração, anunciantes, mecenas, grupos de interesse, políticos ou funcionários do governo. A precisão começa com o compromisso de publicar factos verificáveis. No entanto os factos, embora verdadeiros, não são necessariamente toda a verdade. Portanto, os jornalistas devem considerar múltiplas perspectivas para que o resultado reflicta a imagem mais honesta da realidade que pode ser apresentada. O que Bob Woodward e Carl Bernstein chamam de "a melhor versão disponível da verdade".

  • Redacções mais diversificadas e inclusivas

Uma redacção verdadeiramente diversificada tem muito mais probabilidade de criar notícias confiáveis, de acordo com os autores. “Isso começa com o compromisso de contratar e manter funcionários que reflictam a diversidade da comunidade, não apenas diversidade étnica e de género, mas pessoas com diferentes origens económicas, educacionais, religiosas, geográficas e sociais”.

  • Ter uma política clara e coerente para orientar os jornalistas nas interacções com redes ou actividades políticas

Qual é a relação correcta entre uma cultura de redacção aberta e inclusiva e a liberdade?, questionam os autores. “Os jornalistas têm que expressar as suas opiniões nas redes sociais ou participar de eventos políticos, como manifestações ou comícios? "O nosso ponto de vista é que, permitir que os jornalistas expressem opiniões sobre questões controversas, como questões sociais e políticas, corrói a percepção de justiça e a mente aberta de confiabilidade. Não aceitamos o argumento de que algumas redes sociais pessoais devem ser deixadas de fora das políticas dos media. O jornalista é um representante dos media independentemente da plataforma ou local e por isso renúncia a alguns direitos pessoais."

  • Foco no jornalismo investigativo original que ajuda as pessoas

Para reconquistar a confiança dos leitores, superando a visão dessa objectividade que consideram ultrapassada, o jornalista deve concentrar-se em publicar informações originais que o ajudem a tomar melhores decisões. "Tente agregar valor com cada história que conta. Os relatórios devem concentrar-se em todos os aspectos da vida, não apenas na política, mas ir mais além. A agenda da redacção deve ser conduzida não apenas pela busca da glória jornalística, mas por um profundo entendimento das diversas prioridades e necessidades das comunidades”.

  • Mostrar os processos de trabalho

Não é por acaso, segundo os autores, que a "transparência" se tornou um slogan, ou um cliché, quando se fala em modos de aumentar a confiança nas notícias. “Divulgar a forma como as informações foram obtidas e os processos envolvidos na construção da notícia pode ser algo antinatural, mas, torna-se numa forma eficaz de criar uma ligação mais forte com os consumidores cépticos”.

  • Definir os valores centrais da redacção e aja de acordo com eles

De acordo com o relatório, pode parecer difícil conciliar a noção de uma redacção com “valores centrais” com a falta de contraditório, mas não é. “Trata-se de agir de acordo com esses valores, por exemplo, alocando mais recursos para questões relacionadas. Se uma redacção considera que um dos valores é o combate às alterações climáticas, ou a defesa da diversidade e inclusão, isso traduz-se na relevância que lhe é dada”.

De acordo com o relatório, “na medida em que os seus valores e prioridades editoriais influenciam a selecção, o peso, o posicionamento, o foco e até o tom da história, reconhecer isso pode criar uma ligação mais autêntica entre os seus jornalistas e o público. Um valor que acreditamos que vale a pena declarar em voz alta é o apoio às instituições democráticas, que estão a ser atacadas em várias frentes. Notícias confiáveis ​​são essenciais para manter uma democracia saudável." Pode aceder ao relatório completo em: https://cronkitenewslab.com/digital/2023/01/26/beyond-objectivity/