Os activos do Scott Trust Fund, empresa proprietária do jornal, aumentaram para mais de mil milhões de libras há dois anos, graças à venda à Apax Partners, por 619 milhões de libras, da quota majoritária que detinha, desde 2000, no Auto Trader, um “site” de anúncios classificados de vendas de automóveis.

 

Alguns analistas consideraram esse desinvestimento um mau passo, dado que o lucrativo Auto Trader constituia uma “cash cow” (“vaca leiteira”) para o The Guardian e lhe assegurava um rendimentoestabilizador; enquanto o produto da sua venda - descrito pelo jornal na altura como “garantindo o (seu) futuro durante gerações” - teria criado uma prosperidade ilusória que adiou a tomada das medidas de contenção de custos que já então se impunham.     

 

Efectivamente, em resultado dos prejuízos acumulados pelo The Guardian desde então, o Scott Trust Fund está reduzido a pouco mais de 758 milhões de libras, que se esgotariam em menos de um decénio se os prejuízos se mantivessem ao ritmo actual, segundo os gestores do jornal Katharine Viner e David Pemsel.

 

O plano agora anunciado visa conseguir uma redução de 20 por cento nos custos operacionais, que aumentaram 23 por cento nos últimos cinco anos e presentemente orçam os 268 milhões de libras por ano. Os chefes de departamento receberam instruções para propôr poupanças nas suas respectivas áreas de responsabilidade. The Guardian emprega presentemente cerca de duas mil pessoas. Não foram ainda anunciados despedimentos, que segundo um jornal concorrente (The Telegraph) serão revelados em Março.

 

Segundo Peter Wilby, em comentário contundente no New Statesman, “o principal problema do The Guardian é que os seus dirigentes parecem incapazes de somar ou, no mínimo, de ler uma folha de balanço”.  

 

Entre as causas dos prejuízos do jornal, Wilby aponta a compra de novas impressoras por 80 milhões libras para possibilitar a impressão em formato Berliner (popular na Europa continental, mas pioneiro entre jornais diários ingleses); novas instalações luxuosas e um centro cultural em Londres, próximo de King's Cross; abertura de sucursais nos EUA e Austrália, e aumento de 479 jornalistas e outros empregados, “num jornal que já tem muito mais jornalistas do que os seus rivais.”

 

O Guardian U.S.,lançado em2011, é uma publicação digital, com uma edição semanal (Guardian Weekly) digital e também impressa. Em 2014, partilhou um prémio Pulitzer com o The Washington Post, por artigos acerca da National Security Agency, baseados em documentos divulgados por Edward Snowden.