Podemos encontrar outra síntese em Mário Mesquita, que foi seu adjunto quando Victor Cunha Rego era director do Diário de Notícias

"Não creio que a dicotomia direita-esquerda seja a forma mais interessante de abordar uma personalidade multifacetada e complexa como Cunha Rego."   

"Talvez se possa dizer que o pessimismo, quase hobbesiano, o aproximava da direita, enquanto o inconformismo, que o revoltava contra os ultraliberais e o culto do dinheiro, o encaminhava para formas de pensamento normalmente identificadas com a esquerda (...). Nos seus artigos associava duas facetas: o pessimismo e a revolta. Mas, globalmente, os seus textos de intervenção dos anos 1990 reconciliaram-no com a esquerda que, noutros tempos, o criticou duramente." (...)

 

A breve biografia presente na apresentação do livro, que aqui citamos de Nuno Costa Santos, no Diário de Notícias, descreve o caminho desta formação:

“Lendo as 856 páginas de Na Prática a Teoria é Outra, com organização de Vasco Rosa e André Cunha Rego, nota-se a presença constante destes dois factores [o prazer e a ética] na prosa de um jornalista de vida muito rica, cheia de experiências diversas, que se estreou nos jornais aos 23 anos, no Diário Ilustrado, leu na juventude 30 volumes da obra de Lenine, admirou Trotsky, viveu em países como o Brasil, a Argélia, a Jugoslávia e a Itália, fez parte do Directório Ibérico de Libertação (DRIL), participou no assalto ao paquete ‘Santa Maria’, foi editorialista do Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo, membro do Partido Socialista Português, apoiante de Francisco Sá Carneiro na AD, presidiu à candidatura do general Soares Carneiro à Presidência da República e fundou e dirigiu o Semanário.” 

“Na escrita sempre fez  - afirma-se na mesma biografia -  dentro das contingências de uma personalidade própria e de uma distinção pessoal do que era essencial e do que era acessório, uma mistura entre gosto e imperativo. Entre paixão e procura de verticalidade. E revelou uma vocação clara para o pluralismo, contra todas as tentações totalitárias.” 

“No primeiro, chamemos-lhe assim, capítulo, "Liberdade", com prefácio de Otavio Frias Filho, diretor da Folha de S. Paulo, muito marcado pelo antissalazarismo, encontramos num texto de 1958, no qual é enaltecida a coragem política da candidatura de Humberto Delgado, uma sentença que não deixa dúvidas: "Da ditadura da extrema-direita à ditadura da extrema-esquerda vai o salto de uma cobra." (...) 

“E é esse homem só e reflexivo que lemos em "Os dias de amanhã", a coluna que significou o regresso ao DN, agora como colunista de segunda a sexta na última página do jornal. "Um modelo bonsai de comentário prestigiado com múltiplos sucedâneos em várias publicações desde então", como referem Vasco Rosa e André Cunha Rego na "Apresentação". 

“É publicada, por respeito às escolhas do autor, a versão editada pela Contexto Editora. São 300 colunas de entre as 1500 publicadas - entre 1992 e 1999. No prefácio à primeira edição fica expresso que Victor Cunha Rego não era um entusiasta de um capitalismo sem tempero: "A globalização do capital financeiro pode ser, ela sim, o Big Brother e a génese de ditaduras ferozes." 

“A declaração de um moderado, que pensava na complexidade dos assuntos sem deslumbres e fundamentalismos.” (...)

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