O Twitter, a plataforma actualmente conhecida como X, sofreu muitas alterações em 2023. Desde a aquisição por Elon Musk em outubro de 2022, muitas das funções da plataforma foram alteradas ou removidas, e recebeu uma reformulação total da marca. 

No que diz respeito às notícias e aos meios de comunicação na plataforma, as grandes alterações incluíram a revisão do sistema de marcas de verificação e a remoção dos títulos das notícias das hiperligações dos artigos.  

Perante o ritmo acelerado das mudanças, é difícil dizer qual será o futuro das notícias no “X”,  contudo, com base em dez anos de dados de inquéritos do “Digital News Report” Craig Robertson analisou, a forma como as pessoas utilizam a plataforma para para obter notícias, o que as motiva a utilizá-la, quais são os seus antecedentes e como se compara com outras plataformas.

Embora a plataforma tenha sofrido muitas alterações, a utilização do Twitter em geral e para notícias manteve-se notavelmente estável ao longo dos últimos 10 anos. Em comparação com outras plataformas, o Twitter é considerado uma plataforma adequada para notícias – particularmente notícias sobre política de marcas tradicionais, fontes mais pequenas/alternativas e políticos.

A análise dos dados recolhidos ao longo dos últimos dez anos revelou ainda que a base de utilizadores do Twitter de forma genérica e para notícias não é representativa da população em geral, com uma minoria em todos os países a utilizar a plataforma. 

Numa análise comparativa com outras plataformas, é mais provável que os utilizadores do Twitter sejam do sexo masculino (58%), tenham estudos superiores (49%), tenham um rendimento elevado (31%) e estejam extremamente/muito interessados em notícias (61%) e política (41%). 

Mas os utilizadores da plataforma não são mais partidários do que os utilizadores de outras plataformas.

Quanto à utilização do Twitter para consumo de notícias, esta tendência é mais elevada nos mercados da Ásia e da América Latina, sendo a utilização mais baixa na Europa continental

Existem alguns indícios de que as pessoas formam comunidades partidárias, com ideias semelhantes, agrupadas em torno de alguns tópicos políticos no Twitter. No entanto, a investigação também indica que é provável que os utilizadores sejam expostos a notícias e perspectivas mais diversificadas com a utilização da plataforma. 

Embora o Twitter seja um meio de partilha de desinformação e existam preocupações legítimas a este respeito, a investigação indica que a prevalência e o alcance das informações falsas têm sido mais limitados do que se supõe. No entanto, a investigação empírica ainda não estudou o efeito das recentes alterações introduzidas na plataforma.

Como é que o Twitter é utilizado para as notícias?

Apesar de algumas alterações na base de utilizadores do Twitter, bem como de mudanças na relação entre o Twitter e as organizações noticiosas, a plataforma continua a ser vista como um destino para notícias e política. Mais do que outras plataformas sociais, o Twitter é visto como um lugar para obter notícias, comentários e perspectivas alternativas. 

Os dados do Relatório da Reuters mostraram que um quarto (25%) dos utilizadores de notícias do Twitter disseram que a principal razão pela qual utilizam a plataforma é para ler as últimas notícias. 

Analisando os tipos de fontes de notícias a que as pessoas prestam mais atenção nas diferentes plataformas, o Twitter é a rede social onde a maioria dos utilizadores dizem prestar atenção aos principais meios de notícias. Estes utilizadores também dizem que prestam atenção a políticos, activistas políticos e fontes de notícias mais pequenas ou alternativas – muito mais do que noutras plataformas sociais. 

Existem, porém, algumas diferenças na atenção às notícias por idade. Os utilizadores mais velhos do Twitter tendem a prestar mais atenção às principais marcas de notícias e aos políticos quando se trata de ler notícias na plataforma. Já os utilizadores mais jovens (com menos de 35 anos) também dizem prestar mais atenção a estas fontes, mas também são muito mais propensos a seguir celebridades e personalidades das redes sociais para obterem conteúdos noticiosos.

Por último, os tópicos noticiosos a que as pessoas dizem prestar mais atenção no Twitter são também um reflexo da identidade da plataforma, que apresenta uma maior proporção de notícias do que as outras plataformas. E muitos utilizadores procuram actualizações sobre política nacional e notícias sobre negócios, finanças e economia.

E as "câmaras de eco" no Twitter? 

Muitos têm argumentado que os utilizadores do Twitter, através das suas próprias decisões de selecção ou em combinação com a concepção e os algoritmos da plataforma, correm o risco de acabar em “câmaras de eco partidárias” – apenas falando e consumindo conteúdos (políticos) de pessoas com quem concordam. 

Os investigadores referem também que o Twitter tem uma reputação de debate político aceso e que os seus utilizadores, particularmente os que aí obtêm notícias, tendem a ser bastante activos politicamente.

No entanto, que a investigação também indica que um número limitado de pessoas, incluindo utilizadores partidários na plataforma, atrai uma quantidade desproporcional de atenção.

A investigação conclui que podem ser observados padrões de comunicação de “câmara de eco” semelhante aos do Twitter quando se trata de discussões online de algumas questões políticas, contudo, os investigadores defendem que isto pode simplesmente refletir a preferência geral das pessoas pela comunicação com utilizadores de mentalidade semelhante.

Se considerarmos o uso de notícias de forma mais ampla, a pesquisa mostra que plataformas como o Twitter expõem as pessoas a mais notícias (politicamente) diversas do que poderiam ver de outra forma, mesmo que não estejam especificamente à procura delas o que, em certa medida, contraria o argumento das "câmaras de eco". 

Uma simples análise dos dados recolhidos mostra como uma maior proporção de utilizadores do Twitter (28% deles) acedeu a sete ou mais fontes de notícias online na semana do inquérito, em comparação com os utilizadores de outras plataformas.

E quanto à desinformação no Twitter? 

Há muitos anos que existem preocupações legítimas sobre a circulação de informações falsas no Twitter (e noutras plataformas), contudo, devido mudanças na empresa, surgiram novas preocupações sobre um potencial aumento da quantidade de informações falsas e enganosas que se espalham no Twitter (agora "X"). 

Elon Musk despediu grande parte da força de trabalho da empresa, incluindo a equipa de moderação de conteúdos, e manifestou publicamente o seu empenho numa maior "liberdade de expressão" na plataforma – que foi interpretado por muitos como um desejo de uma moderação de conteúdos mais ligeira.

Os dados de janeiro/fevereiro de 2023 mostram que os utilizadores do Twitter estão mais preocupados com informações “falsas online” do que as outras pessoas. 

Além disso, a presença de desinformação e o facto de ser partilhada não significa necessariamente que o conteúdo seja acreditado. 

Segundo Robertson, uma equipa de investigação estimou que, no período que antecedeu as eleições parlamentares europeias de 2019, apenas 4% do conteúdo mediático que circulou no Twitter provinha de sites de "notícias falsas" ou de fontes de propaganda russa conhecidas. Comparativamente, 34% dos conteúdos provinham dos principais meios de comunicação social. No contexto das eleições norte-americanas de 2016, uma investigação revelou que 1% dos utilizadores do Twitter estavam expostos a 80% das notícias falsas na plataforma e 0,1% dos utilizadores eram responsáveis por quase 80% deste conteúdo partilhado, sendo a maior parte do conteúdo proveniente de agências noticiosas tradicionais.

É importante salientar que estas conclusões se aplicam ao Twitter tal como era antes da aquisição por Musk. 

Para Robertson, efeito que as alterações implementadas por Musk terão na quantidade de conteúdos falsos e enganosos na plataforma (bem como na quantidade de discurso de ódio e outros tipos de conteúdos) é uma questão urgente para investigação empírica futura. No entanto, nada disto pretende ignorar o facto de que existem conteúdos falsos no Twitter e que estes podem ter, e têm, impactos negativos reais nos indivíduos (desproporcionalmente em certos tipos de pessoas) e na esfera pública. 

O futuro do "X" 

Embora algumas pessoas tenham previsto um êxodo em massa dos utilizadores do Twitter após a aquisição da empresa por Elon Musk, tal ainda não se verificou. 

Há anos que as pessoas se queixam da plataforma, mas a utilização do Twitter nos últimos dez anos tem-se mantido notavelmente estável em termos gerais, com uma minoria persistente da população online (cerca de 11%) a utilizar a plataforma semanalmente para obter notícias.

As perguntas dos jornalistas à equipa de imprensa do Twitter têm sido respondidas com um emoji depreciativo, o que segundo Robertson pode ser um sinal da opinião de Musk sobre muitos jornalistas. 

As agências noticiosas têm notado um declínio nas referências do Twitter nos últimos anos, o que tem motivado, segundo o autor, exames de consciência entre os jornalistas sobre se deveriam continuar a utilizar a plataforma de forma tão intensa, e alguns meios de comunicação questionaram se deveriam continuar a investir tempo e recursos nela.