Trump contra os jornalistas
As democracias não funcionam sem uma comunicação social independente do poder político. Já os autocratas procuram controlar a comunicação social. Trump não será exceção.
É já a 20 de Janeiro que Trump tomará posse como presidente dos EUA. Multiplicam-se, assim, as previsões sobre o que fará Trump neste seu regresso à Casa Branca.
Os autocratas não se guiam pela ciência. Trump não gosta de vacinas nem acredita nas alterações climáticas, pelo que serão de esperar aí importantes e graves retrocessos civilizacionais. Mas os mais preocupantes atentados à racionalidade democrática residirão, provavelmente, nas duas áreas que os autocratas costumam tomar como alvos prioritários: a independência do poder judicial (independência relativamente ao poder político) e a liberdade de informação.
Trump já várias vezes falou no “imperativo de endireitar” a comunicação social, que ele considera quase tão corrupta como o sistema eleitoral. Poderá perguntar-se que autoridade tem este político para falar, quando ele continua a negar que em 2020 tenha sido derrotado nas eleições presidenciais, contra inúmeras decisões judiciais que atestam o contrário.
Há muitas maneiras de controlar a informação dos jornalistas. A mais conhecida, pelo menos dos portugueses que têm memória do regime derrubado em 25 de Abril de 1974, é a censura prévia. Mas existem outras formas de limitar a liberdade de expressão dos jornalistas.
Por exemplo, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, grande adepto de Trump, promoveu a venda de órgãos de comunicação social a amigos políticos, assim evitando a divulgação de factos bem como de críticas que desagradassem ao poder autocrático.
Pelo que ele próprio já disse, Trump recorrerá, antes de mais, a levar jornalistas a tribunal, sendo que contará com órgãos judiciais “amigos”. Percebe-se que os autocratas, como Trump, não hesitem em violar a independência dos jornalistas e a independência do poder judicial para evitarem notícias e opiniões desfavoráveis no espaço público.
Significa isto que o trabalho dos jornalistas nos EUA é isento de críticas? Não, de maneira nenhuma. Em democracia o poder dos jornalistas deve ser vigiado pela opinião pública e criticado quando for o caso. O que implica mais, e não menos, liberdade de informação no espaço público.