Um estudo da OCDE, abrangendo 31 países e recentemente divulgado, revela que os portugueses levam a “lanterna vermelha” em matéria de literacia e cálculo, ficando muito abaixo da média aferida por aquela organização.

Os resultados do inquérito penalizam fortemente os portugueses entre os 16 e os 65 anos, ao indicarem que cerca de 40% dos adultos não conseguem ter competências para ir além de textos simples e de problemas básicos de matemática. Pior do que nós neste “ranking” só os chilenos…

À luz destes dados, compreende-se melhor a fraca circulação de jornais ou as modestas tiragens de livros, de ficção ou não ficção, bem como o problemático desempenho recente de alunos portugueses a matemática.

Os portugueses lêem pouco, porque o prazer da leitura ensina-se na escola, e esta ensina cada vez menos, por se ter tornado pouco exigente e facilitista para iludir estatísticas, em especial nos estabelecimentos públicos.

Há uma geração com fraca apetência para a leitura, fora das mensagens criptográficas trocadas entre telemóveis e nas redes sociais.

É uma geração “digital”, que se sente perdida no caso de esquecer-se do telemóvel em casa, e que reage sobressaltada perante a eventualidade desse aparelho “mágico” ser proibido nas escolas durante as aulas, prática já seguida por alguns estabelecimentos que não hipotecaram o bom senso e sentido de responsabilidade, em nome de teorias absurdas de liberdade individual.

Ensina-se mal, designadamente nas escolas públicas — onde muitos professores transformaram a nobre missão de ensinar em demagógica competição de greves —, e aprende-se pior.

Os “rankings” anuais, enquanto forem divulgados, constituem um dramático espelho dessa desigualdade entre as competências em escolas privadas e as públicas.  

Não é de estranhar, por isso, que a Língua de Camões esteja a sofrer “tratos de polé”, e que os indicadores de literacia sejam o que são.

Como se lê pouco, a escrita ressente-se e nem o jornalismo escapa a essa tendência.

A quem estiver minimamente atento não terão escapado os frequentes dislates que aparecem nas televisões, na informação que passa habitualmente em rodapé, em complemento dos principais blocos noticiosos.

Infelizmente, deixaram de ser raros, ou acidentais, os casos de jornalistas com fraco domínio do português.

Mas que pensar dos quase 40% dos professores que, em 2015, “chumbaram” na Prova de Avaliação de Conhecimentos, realizada por teimosia de uma antiga ministra da Educação, que não se importou de enfrentar a contestação movida pela todo-poderosa FENPROF?

Percebeu-se depois, feita a prova, a razão da tenaz oposição das estruturas sindicais, quando ficaram expostos os erros de ortografia cometidos por muitos professores, que chocaram o próprio Ministério, além das dificuldades detectadas nas respostas às perguntas de raciocínio lógico. “Chumbaram”, então, umas centenas de docentes.

A experiência, que se saiba, não teve seguimento, enquanto prosseguiu a degradação do ensino de Português, bem patente nos erros básicos em que incorrem, por vezes, jornalistas e não jornalistas, até com graus académicos superiores.

Não tenhamos ilusões: enquanto não for restabelecida uma verdadeira e alargada exigência no ensino, recuperando leituras obrigatórias que foram banidas, a Imprensa continuará a ressentir-se da falta de leitores, e os alunos da falta de professores capazes.

O papel da Imprensa é lutar contra a demonstrada deserção de leitores, convencendo-os a não trocar a informação séria pela desinformação avulsa das redes sociais, fonte de contaminação de várias gerações, em particular das mais jovens.

Se não o conseguir, a Imprensa estará a comprometer o seu futuro. E o futuro da Democracia também se joga nesse tabuleiro.