Passado um quarto de século da mudança de soberania em Macau, tenho notado que em Portugal causa alguma surpresa a continuidade dos media portugueses na que agora se chama RAEM-Região Administrativa Especial de Macau.

Mantêm-se canais portugueses de Rádio e Televisão, uma delegação da Lusa, três jornais generalistas diários, um semanário confessional com longa história e um semanário mais recente que mistura português e chinês.

Os canais da TDM-Teledifusão de Macau são públicos, os diários são pertença de jornalistas portugueses, o semanário confessional pertence à vetusta Diocese de Macau e o mais recente semanário também, com apoio de sócio(s) chineses de Macau.

A agência de notícias portuguesa Lusa tem uma delegação com o mínimo de pessoal. Já não possui a residência que a Administração portuguesa lhe concedeu pela obrigação de manter uma delegação em Macau, porque uma anterior administração da agência, em tempo de “vacas magras” a vendeu.

A Lusa fornece serviço especial aos media portugueses de Macau a preço muito baixo.

Em cada um dos media portugueses há redacções aquém do dinamismo sócio-económico e cultural da Região, sendo mais notória a escassez de quadros após a pandemia da Covid, que fez com que alguns profissionais regressassem a Portugal. Durante mais de três anos, a RAEM esteve “fechada” ao mundo, e todos os sectores sócio-económicos, sofreram um enorme abalo financeiro que, no caso dos jornais, fez temer pela continuidade.

Não foram bons tempos, mas a verdade é que conseguiram aguentar-se e a pandemia até revelou a importância dos media em português, contribuindo para ajudar as campanhas sanitárias oportunamente lançadas pelo governo.

A TDM é pública e foi fazendo o seu caminho através de orçamentos, sempre regateados pela tutela, mas que permitiu chegar a cinco canais, só um em português, o que se compreende porque é reduzido o número de falantes de português.

Com os canais de rádio e TV a funcionarem 24 horas (durante a madrugada, a rádio liga à Antena 1 e a televisão à RTP Internacional), desempenham um papel informativo fundamental, que mantém a ligação com Portugal e pode ser interrompida em momentos especiais da Região.

Macau tem frequentes tufões que alteram a vida da cidade e ilhas, obrigando ao encerramento dos serviços públicos, estabelecimentos do ensino (25% da população anda a estudar), e provoca substanciais mudanças no trânsito e transportes públicos.

Quanto à Imprensa portuguesa, e como sempre aconteceu, a presença das empresas portuguesas em Macau pouco a apoia, a não ser colocando anúncios a que são obrigados por lei. Salvo raras excepções, sempre foram poucas, pequenas e com negócios que não se dirigem ao consumo da comunidade portuguesa. As excepções confirmam a regra e essas cumprem o que se designa como o seu “papel social”.

Perguntar-se-á, então: e como sobrevive a imprensa em português?

Em primeiro lugar, porque desde a administração portuguesa, todos os actos públicos de todos os departamentos governamentais, são obrigatoriamente difundidos num jornal em língua chinesa e noutro em língua portuguesa.

É um apoio muito significativo, igual para todos os media que mantenham edições permanentes em papel, conforme o número de páginas e publicação semanal. 

Todos recebem ainda um subsídio anual, que não pode ser utilizado em salários ao pessoal e é ligado, entre outros itens, à modernização tecnológica — todos têm edições em papel e electrónicas, um mais detalhado que os outros.

Sendo estes apoios igualmente concedidos à imprensa em língua portuguesa e à língua chinesa, surgiram, aliás, num conceito de há várias décadas quando os jornais de Hong Kong (chineses e ingleses) só podiam entrar em Macau durante a tarde.

Manter um jornal local em língua portuguesa (não jornal português em Macau) não é fácil, nunca foi fácil e nunca será fácil, mas a atitude positiva do governo da RAEM tem ajudado à sua sobrevivência, aliás, à semelhança do que faz com o apoio decisivo que dá a todas as associações de matriz portuguesa, à Escola Portuguesa, etc.

Mas pela primeira vez na história de séculos da presença portuguesa em Macau, um jornal está a caminho dos 42 anos de publicação ininterrupta, sem que Portugal tivesse dado conta, apesar da importância cultural que desenvolve para a vulgarização da Língua Portuguesa.

Nada que me surpreenda. Nos 41 anos em que dirigi o jornal (Tribuna de Macau), e eu próprio, só fomos processados entre 1982 e 1986, por um governador português de má figura.

Desde essa altura até 2024, quando resolvi passar a escrever de Portugal, nunca ninguém da administração chinesa, sequer beliscou a minha ética jornalística, antes pelo contrário, deram sempre mostras de apoio à comunidade portuguesa.