Os media, o jornalismo e o País adiado
Compete aos media em democracia escrutinar o poder e os seus agentes, denunciando o que forem atropelos à lei, desde comportamentos individuais a actos da administração contrários ou lesivos do interesse colectivo.
Mas não cabe aos media substituírem-se à Justiça e fazerem “tábua rasa” da lei ou da presunção de inocência, acusando tantas vezes sem fundamento ou partilhando campanhas orquestradas, com o objectivo de derrubar governos, ou instituições, e enfraquecerem partidos, com base em indícios não apurados ou em suspeitas tratadas como se fossem certezas.
O recente caso que envolveu o primeiro-ministro e se consumou em novas eleições antecipadas, anunciadas para Maio, é paradigmático e é disso exemplo.
Semanas seguidas de capas contundentes de jornais, com abertura garantida nos telejornais em “prime time” e comentadores residentes, de dedo em riste, como se o primeiro-ministro fosse o protagonista das piores malfeitorias, em nome do enriquecimentos súbito.
Num ápice, passou-se da empresa familiar e do perfil das suas receitas, para a casa de Espinho ou para as obras nos apartamentos de Lisboa. À pala do escrutínio, apostou-se na devassa.
Diz-se agora que, tudo espremido, a “montanha pariu um rato”. Ou nem isso. Enquanto o líder da oposição, em tocante oração de fé pela ética e moral, já esqueceu os “telhados de vidro” que tem, quando manteve a qualidade de sócio de uma empresa familiar, no seu currículo de ministro do anterior governo. Com a agravante desta empresa - da qual só se desvinculou mais tarde - ser, à época, detentora de vários contratos com o Estado e beneficiária do famoso PRR.
A intoxicação da opinião pública, assente em suspeitas corrosivas, embora sem prova de qualquer ilegalidade cometida, teve o desfecho expectável, com Legislativas fora de tempo. Nem o jornalismo, nem os media, nem os partidos saíram reforçados. No meio das incertezas que grassam na Europa e no mundo, o País continua adiado.