O revés da “bolha mediática”…
Nas recentes eleições legislativas os media sofreram, também, um forte revés, embora tacitamente finjam que não se passou nada, e que nem são parte do processo que mudou profundamente a paisagem parlamentar portuguesa. E são.
Meses a fio, a maioria dos media - escritos, digitais e audiovisuais - bateram nas mesmas teclas e fizeram política por conta própria, defendendo os actores que correspondiam aos interesses e devoções estabelecidos por jornalistas, comentadores e afins, atacando desapiedadamente quem estava fora dessa órbita - muitas vezes invocando a moral e a ética, em registo de “prêt-a-porter”.
Chegou-se ao extremo de ver auto-intitulados “especialistas de comunicação”, titulares de empresas do sector, com larga folha de serviços devedora de partidos do chamado “arco da governação”, aparecerem nas televisões arvorados em comentadores, sem o menor pudor, induzindo o espectador num verdadeiro logro. É o vale tudo.
Mas não funcionou. As escolhas do eleitorado no passado 18 de Maio não favoreceram as cores dominantes, plantadas na maioria das redacções, e comprometeram as previsões da “bolha mediática”. Pior: arrasaram as culturas afeiçoadas ao longo do tempo, e aprofundaram mais a crise dos media e o desprestigio do jornalismo e do “comentariado” politicamente cumpliciado.
A derrocada, com nomes próprios que não vêm agora ao caso, não deixou também incólumes as empresas de sondagens que, com raras excepções, procuraram pastorear os inquiridos e moldar os resultados ao sabor das suas conveniências.
Fez escola a figura do “empate técnico“, teimosamente mantido nas sondagens sobre a posição relativa dos principais partidos do espectro partidário, desmentido pela grande e verdadeira sondagem que foram as eleições.
Perante a reacção ouvida na noite eleitoral a vários desses comentadores (que não se inibiram de desvalorizar os resultados nas urnas, escamoteando o seu significado e os seus próprios erros de análise, com afirmações displicentes do tipo “daqui a um ano teremos novas eleições”), verifica-se que não aprenderam nada e que seja qual for a solução governativa, desde que oposta aos seus desígnios ou aspirações, continuarão entrincheirados, em modo de combate.
Com a Imprensa escrita em declínio, a digital que já conheceu melhores dias, e o audiovisual condicionado pelo poder efectivo que se esconde nos bastidores, por detrás das câmaras e microfones, em alianças espúrias e negócios mal explicados, é de temer um desfecho dramático para os media.
É certo que essa realidade crepuscular não afecta apenas os media nacionais, contando com equivalências em diferentes versões em vários pontos do mundo. Mas não nos serve de consolo. Nem nos deverá afligir menos, perante a visão de empresas mediáticas em falência técnica e outras a caminho…