Os media americanos estão a viver uma fase muito original na sua relação com a nova administração instalada na Casa Branca: ou “abanam a cauda” e não incomodam nem questionam a sério o dono da casa, ou negam-lhes o acesso a eventos oficiais por tempo indeterminado…

A Associated Press já foi excluída, tanto dos “meetings” mais restritos da Sala Oval, como do avião presidencial, por se recusar a adoptar o Golfo do México como Golfo da América, segundo o novo catecismo presidencial.

E, à cautela, Jeff Bezos, o todo poderoso fundador da Amazon e patrão do Washington Post, também já definiu a nova orientação editorial do jornal, cuja influente secção de opinião passará, doravante, a defender “dois pilares: as liberdades pessoais e o mercado livre”, o que já forçou a demissão do respectivo editor, David Shipley, sendo provável que outros jornalistas façam o mesmo.

De acordo com a concepção de Bezos para o seu jornal, “os pontos de vista que se oponham a estes pilares vamos deixá-los para serem publicados por outros”.

Desenha-se, portanto, um incontornável monolitismo na opinião do Washington Post, contrário ao seu prestigiado histórico, enquanto Bezos já procura um novo editor mais moldável às suas directivas.

É de presumir que a redacção do WP tenha ficado em estado de choque, perante a intromissão de Bezos na independência editorial do jornal, fundado há quase 150 anos.

A decisão de Bezos está a ser duramente criticada no interior da redacção do Post, que receia o alinhamento do jornal pela nova lógica da Casa Branca.

No Kremlin adivinha-se um certo sorriso em Putin, e não apenas perante a insólita posição americana no Conselho de Segurança da ONU, ao recusar assinar a declaração condenatória da invasão russa na Ucrânia. Pudicamente, abstiveram-se.

A pressão e as incertezas que pairam sobre o jornalismo americano estão à vista, decorrido o primeiro mês do segundo mandato de Trump. Imagine-se onde e como estarão os grandes media ao fim de quatro anos…