Conheci o Eng. Fernando Magalhães Crespo pouco tempo depois do 25 de Abril e ainda antes de ele entrar para a Rádio Renascença, onde durante mais de trinta anos realizou uma obra notável. Ficaria nessa altura espantado se me dissessem que Magalhães Crespo seria em 2005 feito presidente emérito do Grupo Renascença. E que por ocasião do seu recente falecimento receberia tantos e tão merecidos elogios.

Formado no Instituto Superior Técnico, Magalhães Crespo era um Engenheiro. Não tinha experiência em empresas de comunicação social. No entanto, foi muito por obra dele que o Grupo Renascença ganhou grande dimensão nas décadas que se seguiram. Dimensão informativa e cultural.

Em 1975, em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso), a Rádio Renascença foi ocupada por forças de extrema-esquerda. Foi uma das mais difíceis batalhas que Magalhães Crespo travou, na qual teve o apoio do então líder do Partido Socialista, Mário Soares. O fim dessa ocupação aconteceu com a destruição, por uma bomba, da antena da Renascença na Buraca, perto de Lisboa.  

Em 2018 Magalhães Crespo recebeu o prémio Fé e Liberdade, atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Ele não era um político, mas sabia dialogar com os políticos. Nunca aderiu a um partido político, mas frequentemente tornou públicas as suas opiniões em matéria política, através de Notas de Abertura transmitidas no início dos noticiários da Renascença.

Católico empenhado, não fez da Renascença — emissora católica portuguesa — um órgão de propaganda do catolicismo. Magalhães Crespo cedo percebeu que o prestígio e a força da informação da Renascença dependiam de uma posição isenta, aberta à direita e à esquerda e independente.

Membros do Partido Comunista e de forças da extrema-esquerda, por exemplo, eram com frequência ouvidos pelos microfones da Renascença. O que alguns católicos não entendiam, mas o católico Magalhães Crespo não cedia a tais pressões. Deixou, assim, um legado de liberdade de informação ao qual a Renascença se mantém fiel.

Pessoalmente, tenho a agradecer ao Eng. Magalhães Crespo ter-me convidado, em 1996, a intervir na informação da Renascença. Ainda hoje colaboro na Renascença com muito gosto.

(Jornalista)