Sem jornalismo independente a democracia não funciona. Por isso urge um programa estatal de apoio ao sector, tal como em maior ou menor grau existe em vários países democráticos europeus.

Foi notícia recente a crise financeira de mais um grupo na área dos media. Trata-se do grupo Trust In News, que edita a revista Visão e mais quinze outros títulos. Este grupo tem dívidas que ultrapassam os 30 milhões de euros. Existe um plano de recuperação, que se encontra dependente da aprovação pelo Ministério das Finanças e pela Segurança Social; metade das dívidas em causa envolve entidades do Estado.

É mais um caso que mostra a debilidade do sector dos media, que já há muito deveria ter desencadeado um programa estatal de apoio. A menos que se considere inútil o jornalismo e se deixe a informação dos portugueses totalmente nas mãos de promotores do populismo, das notícias falsas, da desinformação.

Numa altura em que inúmeros grupos profissionais exigem ao Estado melhorias na sua situação económica, os jornalistas não são mais uns tantos que estendem a mão aos poderes públicos para que estes lhes assegurem a sua sobrevivência. Tudo está em saber se uma democracia autêntica pode funcionar sem o contributo do jornalismo independente, que não é compatível com situações de pré-falência.

Se a resposta for negativa — não, a democracia precisa do contributo dos jornalistas, dirão quase todos, pelo menos aqueles que prezam a liberdade democrática — então o que falta é o poder político agir em consequência, não deixando degradar-se a situação do sector.   

Claro que seria preferível que o Estado não tivesse de vir apoiar os jornalistas e as empresas que os empregam. Só que essa situação ideal não existe em parte alguma do mundo.

E também se sabe que os apoios estatais terão de ser concedidos afastando os riscos de levarem a influenciar os jornalistas. Seria absurdo conceder apoios ao jornalismo para o tornar dependente de quem o apoia.

Este problema não existe apenas em Portugal, ele afecta todo o mundo. Por isso os autocratas se aproveitam dessa situação para controlarem o que os jornalistas escrevem e dizem.

Ora há experiências de apoios estatais em vários países democráticos europeus que lograram evitar o risco de o apoio ser uma mera moeda de troca para os governos influenciarem o trabalho dos jornalistas. Há que aprender com essas experiências, antes que seja tarde.