A onda de casos e o jornalismo
Problemas de uma democracia, dirão alguns. De facto, nos regimes autocráticos o poder político não respeita a liberdade de expressão e pode assim ocultar dos cidadãos esses problemas. Mas será que gostávamos de voltar a viver como antes de 1974? Creio que não. Preferimos saber a verdade, ainda que menos simpática.
Desde há quase meio século estamos habituados a viver em liberdade, incluindo a liberdade de expressão. Aprendemos a respeitar quem não pensa como nós, o que é fundamental numa sociedade pluralista.
Como era inevitável, ao longo destes anos de democracia houve tentativas de interferência política na ação dos jornalistas. Mas felizmente essas tentativas falharam e os sucessivos governos reconheceram, na prática, a importância do jornalismo para uma saudável vida democrática.
Imaginemos, por um instante, que não existia jornalismo livre no nosso país. Provavelmente muitos dos incómodos casos (para o Governo) a que assistimos nos últimos meses não teriam chegado ao conhecimento dos cidadãos. Daí a tentação de amordaçar o jornalismo, que não prevaleceu.
Claro que a denúncia de muitos dos casos não partiu apenas de jornalistas. Mas os espaços de que são responsáveis os jornalistas foram decisivos para informar as pessoas. Se apenas existissem as redes sociais tal informação seria bem mais deficiente, até porque nessa área se multiplicam as notícias falsas.
Estarei aqui a fazer dos jornalistas uns santos e uns sábios? Decerto que não. Nós, os jornalistas, não somos melhores do que os outros. Apenas lembro que a nossa esfera de ação é de grande importância para a democracia, mesmo com internet.