O despedimento colectivo anunciado para o jornal “A Bola” – o
histórico jornal da Travessa da Queimada e o único sobrevivente do
chamado “bairro da tinta” que era o Bairro Alto - é o exemplo mais
recente e acabado de uma crise que está a abalar a Imprensa
portuguesa, atingindo até os seus títulos de referência.

Com quase 80 anos, “A Bola” (fundada em 1945 por Cândido de
Oliveira, António Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo) começou por
ser um bissemanário, passou depois a quadrissemanário e, desde
1995, transformou-se em diário, reconhecido pela abrangência da
sua cobertura desportiva em diferentes modalidades, com relevo
para o futebol, e pela qualidade do seu jornalismo.

Líder de audiências durante um período alargado, “A Bola” nunca
aderiu à APCT, a associação de controlo de tiragens, o que
supostamente se devia à rivalidade existente com o jornal
concorrente “Record”, embora, na prática, fosse uma atitude vista
como forma de iludir as suas quebras na circulação impressa.
O certo é que o jornal acabou por ser adquirido por um grupo de
media suíço, que assumiu a intenção de “emagrecer” os quadros de
“A Bola” em cerca de dois terços do pessoal, com grande incidência
nos jornalistas.

Esta “descida aos abismos” de “A Bola” só será , talvez, comparável
à do “ Diário de Noticias” (fundado em 1864, pelo jornalista e
escritor Eduardo Coelho e por Tomás Quintino Antunes), cuja
queda se tornou também imparável, não obstante a sua riquíssima
história que atravessou vários séculos e regimes, dispondo hoje de
uma circulação residual.

Em ambos os casos, e em diferentes planos, duvidou-se sempre
que a crise pudesse chegar ao ponto a que chegou.
A realidade, porém, é que a concorrência da Internet, a par das
televisões, generalistas e temáticas (e do “streaming”) tem
contribuído para diminuir drasticamente o interesse pela Imprensa,
apesar desta ter lançado mão de suportes digitais para tentar
compensar a debilidade das suas tiragens.

Num País que nunca se distinguiu pelo interesse na leitura – desde
o livro aos jornais -, que deixou gradualmente de ser incentivada
nas escolas, não admira que a Imprensa se tenha ressentido mais
do que os meios audiovisuais, e hoje seja cada vez mais um
mercado de nicho.

A crise em “A Bola” - sem dúvida um título histórico na Imprensa
desportiva - é, obviamente, o resultado de decisões erradas ou
tardias, desprezando ou sem perceberem que estava em curso uma
profunda mudança de hábitos no consumo da informação,
sobretudo por parte do publico mais jovem.
O plano de despedimentos assumido pelos novos proprietários,
sendo apresentado, como é costume, a pretexto de uma
reestruturação da empresa, não deixa dúvidas a ninguém sobre os
próximos passos.

“A Bola” , como outros títulos, lutam pela sobrevivência, num
mercado adverso, que tem vindo a “afunilar”, e a ficar mais
vulnerável e dependente dos poderes do dia.