Na enxurrada de “ordens executivas” que tem caracterizado a frenética actividade de Donald Trump, no início do segundo mandato presidencial para o qual foi eleito, faltava a chamada “cereja em cima do bolo”, que surgiu com a proibição de os jornalistas da Associated Press (AP) acederem aos “briefings” na Sala Oval ou ao avião oficial “Air Force One”, por se recusarem a tratar o Golfo do México por Golfo da América.

A decisão, embora bizarra e inédita, foi imediatamente aplicada, apesar dos protestos da Agência, considerada um dos pilares do jornalismo americano, o que levou os seus responsáveis a desencadear um processo em tribunal contra as interdições, considerando estar em causa a violação da Primeira Emenda da Constituição, que consagra a liberdade de Imprensa e de expressão.

A AP enfatizou mesmo que tal procedimento da Casa Branca representava uma “escalada muito inquietante” contra os jornalistas e o jornalismo.

É antiga a animosidade de Trump perante o jornalismo independente. Foi assim no primeiro mandato e renova-se agora, de uma forma mais crua e “por tempo indeterminado”, enquanto a AP não obedecer à vontade presidencial de adoptar a menção de “Golfo da América”.

É surpreendente, no entanto, a forma como Trump decidiu hostilizar a grande agência americana, fundada em 1846 por jornais nova-iorquinos, e que emprega mais de três mil pessoas nos EUA e nos seus escritórios dispersos pelo mundo.

É ainda cedo para prever o desfecho desta querela, que coloca o presidente americano entre os adversários da liberdade de imprensa, ao penalizar todos aqueles que não obedeçam aos seus caprichos e às suas “ordens executivas”.  

Escrever que a América mudou será excessivo. Mas é inquestionável que a Casa Branca mudou. As consequências estão à vista. E as incertezas também.