Juntamente com autores patrocinados pelo Estado, um número crescente de empresas privadas está a lucrar com a disseminação de desinformação em nome de clientes como políticos e empresas.

 A investigação, realizada em conjunto com 30 organizações de media, expôs o funcionamento interno de uma dessas equipas, uma unidade israelita de operações que combina o uso de desinformação automatizada nas redes sociais com hacking e a implantação de histórias fabricadas nos principais meios de comunicação. As revelações resultantes oferecem a visão mais profunda e detalhada conseguida até agora sobre as formas de desinformação digital em acção.

Com o nome de código Team Jorge, a unidade é chefiada por um ex-agente das forças especiais israelitas, que nega qualquer irregularidade.

Para manipular o debate online, desenvolveram um software de ponta para criar dezenas de milhares de avatares falsos com um currículo digital convincente, que inclui até contas do Airbnb.

A equipa de desinformação opera vários países e muitas vezes intervém em disputas comerciais. No Reino Unido, o Information Commissioner's Office foi alvo de críticas online, porque procurava esclarecer a transparência da concessão de contractos de EPI do governo durante a Covid.

Separadamente, o Team Jorge organizou uma manifestação falsa do “mundo real” em Londres, cujo impacto foi amplificado pelos avatares também eles falsos.

Os agentes da equipa também se infiltraram numa campanha eleitoral na Nigéria e obtiveram documentos classificados. Os principais actores nas eleições quenianas do ano passado tiveram as suas contas de Gmail e Telegram invadidos pelo uso de métodos de hacking.

A unidade de desinformação também parece ter como alvo a grande media, implanta histórias que são rapidamente retomadas pelos bots. Um membro do Team Jorge disse aos investigadores disfarçados que era responsável por uma história falsa favorável aos oligarcas russos atingidos por sanções, que foi transmitida no canal de notícias com mais audiência em França.

A profissionalização de uma indústria de desinformação comercial, à procura de lucrar com mentiras e distorções, é uma das ameaças claras e presentes nos nossos tempos. Avanços rápidos nas áreas de inteligência artificial e realidade virtual prometem trazer enormes ganhos sociais; mas também oferecem novos obstáculos para confundir as linhas entre o real e o falso, e a verdade e a mentira.

As teorias da conspiração propagadas online durante a pandemia de Covid e o motim no Capitólio após as falsas alegações de que a eleição presidencial dos EUA em 2020, foi roubada mostraram até onde isso pode levar.

À medida que a tecnologia avança, os sistemas de regulamentação e supervisão pública devem tentar acompanhar o ritmo e garantir que as plataformas tecnológicas se tornem mais responsáveis pelos ambientes online que criam. Numa era de polarização, a desinformação mina a presunção de boa fé necessária para o debate e consenso democrático.

Mais atenção deve ser dada às actividades de organizações como a Team Jorge, e mais recursos devem ser dedicados para colocá-los fora do mercado defende o Guardian.