A Press Gazette publicou um artigo que dá a conhecer a RocaNews, uma start-up americana de notícias fundada em 2020 por três empreendedores na casa dos 20 anos. O objectivo é provar que o público da Geração Z está disposto a pagar por notícias se “forem feitas da maneira certa”. 

A RocaNews é uma plataforma de notícias direccionada para jovens entre os 18 e os 35 anos, com foco nos EUA. Opera via Instagram, uma aplicação de notícias, boletins diários e YouTube, e afirma ter mais de dois milhões de leitores regulares. À Press Gazette, Billy Carney, cofundador da empresa, explicou que a aposta é feita em notícias curtas, leves e directas, como alternativa ao excesso de notícias negativas nas redes sociais. Carney não tem formação em jornalismo e enquanto trabalhou na banca de investimento tentou evitar as notícias. No entanto, durante a pandemia de Covid-19, percebeu a existência de “duas narrativas totalmente diferentes - é como se estivessem a falar de duas pandemias diferentes”. Juntou-se a dois amigos, Max Towey e Max Frost, e decidiram fundar uma empresa de notícias que “resolvesse este problema”.  

“Por um lado, queríamos voltar a envolver os jovens com as notícias, criando produtos que nós próprios gostaríamos de consumir. Por outro lado, queríamos fazer algo que não fosse partidário e que dissesse às pessoas o que se está a passar sem escrever duas mil palavras sobre o que pensamos sobre o assunto", afirmou Carney. 

A certo ponto, o grupo decidiu focar-se no Instagram, por ser a plataforma que eles próprios mais usavam, e hoje conta com 1,6 milhões de seguidores. Ao contrário do estilo adoptado por outros meios - uma fotografia, um parágrafo na legenda e um “link na biografia” que direcciona os leitores para o site -, a RocaNews publica conteúdos completos directamente nos posts, com slides informativos. O objectivo é entregar toda a informação na própria publicação, sem redireccionar os leitores para outros sites

Carney disse que, para chegar à Geração Z e aos jovens da geração do milénio, as marcas de notícias “têm de os encontrar onde eles estão, especialmente se não forem à procura de notícias”. O Relatório de Notícias Digitais do Instituto Reuters de 2020 indicou que os jovens entre 18 e 24 anos preferem aceder às notícias pelas redes sociais, em vez de sites ou apps de notícias.  

Uma tendência que tem vindo a crescer: até 2024, 15% dos inquiridos no último Digital News Report de 12 mercados-chave afirmaram ter utilizado o Instagram para obter notícias na semana anterior ao inquérito, contra 2% dez anos antes. O relatório de 2023 também destacou que é improvável que os jovens mudem esse hábito com a idade. 

“Quer os media tradicionais sintam ou não que concluíram a sua transformação digital inicial de marcas centradas na impressão ou na transmissão para marcas centradas no digital, com um site e uma aplicação de notícias atraentes, enfrentam agora uma transformação digital contínua à medida que as gerações crescem e evitam a descoberta directa de todas as marcas, excepto as mais apelativas.”   

A RocaNews não possui um site tradicional de notícias e, actualmente, tem duas newsletters diárias: uma gratuita, com resumos de notícias, e outra paga, com análises aprofundadas. Segundo Carney, a vantagem de fornecer notícias às pessoas que optaram por seguir ou subscrever no Instagram ou nas newsletters é que pode “criar um espaço um pouco mais saudável” numa altura de “manchetes incendiárias” e que não querem jogar o jogo de atrair cliques para um site através de links do Facebook

A newsletter paga foi lançada em Fevereiro e alcançou mais de mil subscritores no primeiro mês. “Pensámos que os jovens não pagariam pelas notícias. Foi o que toda a gente nos disse e nós concordámos com eles, mas... um dia pensámos «Muito bem, vamos experimentar»”, disse Carney à Press Gazette. Para ele, o problema pode estar na falta de marcas noticiosas em que os jovens confiem, e lamenta não terem testado o modelo pago mais cedo — mas vêem agora uma oportunidade de crescimento. 

A RocaNews também oferece uma aplicação móvel, lançada há cerca de 18 meses. Inspirada no estilo do Duolingo, a app é uma plataforma gamificada que combina notícias diárias e conteúdos aprofundados: os utilizadores ganham pontos de experiência (XP) ao ler artigos, desbloqueando níveis e ganhando recompensas. 

Carney revelou que cerca de 35% dos utilizadores pagam por funcionalidades e conteúdos extras, e que a app tem dezenas de milhares de utilizadores mensais. A parte lúdica da aplicação tem uma curva de aprendizagem que motiva os utilizadores a continuarem, com uma taxa de retenção de 80% após um ano, caso a utilizem várias vezes na primeira semana em que a descarregam. 

A equipa está também a expandir a sua produção de vídeos, especialmente no YouTube, com conteúdos no terreno em vez de apenas notícias diárias. Esta expansão é explicada, em parte, pelo alcance dos anunciantes ser muito maior em vídeos do que em outros formatos. Carney afirmou que a empresa quer aumentar a "personalidade e a ligação emocional" que o público pode sentir em resposta a uma notícia, proporcionando uma experiência mais profunda e significativa do que a leitura de um artigo. Os vídeos mais recentes incluíram reportagens como uma visita à cidade mais tóxica dos EUA, onde se localizava a maior mina de urânio a céu aberto do mundo, e à região mais pobre do Novo México. 

Desde que, no ano passado, os três cofundadores entraram na lista Forbes 30 Under 30, a RocaNews recebeu 5,36 milhões de dólares em investimentos. Em 2023, a receita foi de cerca de 350 mil dólares e, em Novembro de 2024, alcançaram mais de 1 milhão em receita recorrente anualizada, tornando-se rentável no mês anterior, em Outubro. 

“Até há pouco tempo, as receitas do RocaNews provinham sobretudo da publicidade, mas Carney afirmou que fizeram um esforço concertado para diversificar e que, actualmente, o volume de negócios é de cerca de 45% de publicidade, 45% de subscrições e 10% de vídeo. Os eventos também poderão surgir no futuro, mas ainda estão longe”. 

A RocaNews integra publicidade em quase todos os seus produtos — Instagram, newsletters, YouTube e nas receitas partilhadas da própria plataforma. O objectivo, segundo Carney, é lançar mais produtos pagos, o que dependerá da taxa de crescimento dos que já existem.  

O cofundador acredita que o sucesso da RocaNews junto do público jovem se deve ao facto de terem criado as notícias da forma que eles próprios gostariam de ler. “Não quero dizer que o modelo seja demasiado antiquado para sobreviver, mas, realisticamente, os estudantes universitários não lêem artigos noticiosos online. Simplesmente não lêem. A forma como as pessoas interagem com a Internet é muito diferente do que era há dez anos. E acho que tratamos as notícias como uma via de dois sentidos, e penso que isso contribuiu muito para criar confiança nas pessoas", acrescentou. 

A equipa da RocaNews procura manter uma relação próxima com o público: realiza sessões de perguntas (Ask Me Anything), responde a todos os e-mails e interage com os seus leitores através da plataforma Reddit. Actualmente, a equipa é composta por cinco membros a tempo inteiro — em breve, serão seis — incluindo os três fundadores. Com os colaboradores a tempo parcial, a equipa duplica. Carney disse que todos “fazem um pouco de tudo”, mas, na prática, a equipa inclui cerca de dois redactores, um videógrafo, um especialista em produtos e outro em negócios. 

Com uma equipa pequena, a RocaNews selecciona o que cobre de três formas principais: acompanha notícias de grande impacto, investiga temas que ganham força nas redes sociais e recebe sugestões de uma rede de 30 a 40 mil “repórteres da Roca”. Por exemplo, Max Frost viajou recentemente ao Paquistão com semanas de conteúdo já planeado graças às dicas da comunidade. 

Embora os fundadores da Rocanews reconheçam que grandes empresas noticiosas como o New York Times têm mais audiências jovens devido aos números que alcançam, Carney afirmou que o grande objectivo é claro: tornar-se no maior meio de comunicação entre os menores de 40 anos nos EUA, em termos absolutos.

(Créditos da imagem: Unsplash)