Já a adaptação das rotinas profissionais à produção multimídia de narrativas avançou pouco, mais por problemas financeiros do que por inexistência de recursos técnicos”, afirma Carlos Castilho no artigo publicado no Observatório da Imprensa do Brasil, com quem o CPI mantem uma parceria.

Há já quem alcance o equilíbrio entre receitas e despesas, mas ainda são exceções. O autor considera que a sustentabilidade financeira conta com três problemas cruciais:

1. A interacção com o público-alvo mediante estratégias de fidelização;

2. A produção de narrativas jornalísticas sintonizadas com o tipo de pessoas a serem alcançadas pelo projeto informativo;

3. O nível económico do público-alvo;

Para alcançar e manter a sustentabilidade de um projecto é necessário ter receitas. Para ter facturação é preciso ter um produto apelativo para o público. Isso exige literacia mediática, “um mínimo de conhecimentos sobre como ler uma notícia, como descodificar mentiras e como verificar factos e dados, além de um relacionamento estreito, duradouro e interativo entre jornalistas e o seu público-alvo.

Um projeto jornalístico digital, requer a “habilidade e as competências necessárias para lidar com a complexidade das comunidades sociais” de um modo que tenha em conta “o conjunto das pessoas e cada individuo como partes diferentes, mas integradas”. Isto levanta a questão da sustentabilidade e da mobilização porque estes são, atualmente, os dois desafios jornalísticos com maior carência de dados e de técnicas de investigação da realidade.

Por outro lado, o autor, defende que a montagem de um sistema de receitas financeiras vai depender do poder aquisitivo médio do público-alvo, da existência de algum tipo de financiamento público ou privado e da presença de anunciantes. O que requer que cada projeto terá de criar o seu próprio modelo de captação de receitas.

A interação é ainda mais complexa porque vai envolver pessoas, logo exigirá conhecimentos mínimos sobre relações humanas, entender a dinâmica social numa comunidade, tolerância ideológica e persistência diante de eventuais recusas de colaboração. Será necessário que os jornalistas e comunidades se tornem parceiros na produção de informação e na sustentabilidade financeira.

Os dois mais angustiantes dilemas do jornalismo contemporâneo são a incógnita da sustentabilidade financeira e a complexidade do relacionamento entre profissionais e a comunidade de leitores, ouvintes e usuários de redes sociais. O choque causado pela introdução das tecnologias digitais no cotidiano jornalístico já foi absorvido na maioria dos projetos informativos. Já a adaptação das rotinas profissionais à produção multimédia de narrativas avançou pouco, mais por problemas financeiros do que por inexistência de recursos técnicos.