O Wall Street Journal (WSJ) partilha a história de Jeremy Gulban, empresário de tecnologia de Nova Jérsia, proprietário de 92 jornais locais nos EUA. Actualmente, enfrenta desafios como tarifas sobre o papel, desconfiança nos media impressos e concorrência dos podcasts. Cada um dos jornais apresenta o seguinte apelo nos seus sites: “Não deixem o nosso jornal morrer! Assine hoje”.   

O WSJ conta que muitos destes jornais estão a perder dinheiro. “Ultimamente, até pagar o papel em que são impressos é um fardo, devido à iminência de tarifas alfandegárias”.  

Gulban entrou no sector dos media durante a pandemia, comprando o seu primeiro jornal por 195 mil dólares, motivado pela preocupação com o controlo das grandes empresas tecnológicas sobre a informação e o comércio local. Encontrou a sua primeira aquisição num site de venda de negócios, um pequeno jornal a mais de 1300 km do seu negócio na Costa Leste. Jeremy Gulban expandiu a sua empresa, CherryRoad Media, adquirindo dezenas de jornais locais nos últimos cinco anos.  

“Actualmente, os cerca de 30 principais jornais de Gulban são rentáveis, cerca de 30 apresentam resultados medíocres e cerca de 30 estão a perder dinheiro. A empresa teve 30 milhões de dólares de receitas no ano passado e, em geral, não foi rentável”.   

O sector enfrenta desafios graves, com mais de dois jornais locais a fechar por semana, segundo a Universidade Northwestern. A queda no número de assinantes, mudanças nos algoritmos da Google e a ascensão da IA generativa ameaçam ainda mais o negócio. “Para ser economicamente viável, Gulban precisa que entre 15% e 20% dos agregados familiares das suas comunidades sejam assinantes. Actualmente, em toda a empresa, cerca de 8% dos agregados familiares são assinantes, mas essa percentagem varia entre 2% e 69%, dependendo do jornal”, refere o Wall Street Journal

O empresário tomou a decisão de investir na criação de sites com paywalls para os seus jornais, mas “continuam a competir com podcasts e outros meios de comunicação gratuitos em plataformas como o YouTube”. As assinaturas digitais custam entre seis e sete dólares por mês, já as entregas dos jornais impressos variam entre 43 e 83 dólares anuais para semanários, com valores mais elevados para edições mais frequentes. 

Apesar das dificuldades financeiras, Gulban insiste em manter os seus jornais a funcionar em vez de focar apenas nos mais lucrativos: “Se tomássemos uma decisão comercial racional, escolheríamos os nossos mercados com melhor desempenho e diríamos que é isso que vamos fazer. Mas não é isso que eu quero fazer. Quero descobrir como fazer isto funcionar.”  

Para reduzir custos, anunciou que algumas publicações passarão a ser impressas digitalmente em papel de escritório branco, num tamanho de jornal tabloide. Uma mudança impulsionada pelas tarifas de 25% sobre o papel de jornal que a empresa obtém do Canadá, propostas pelo presidente Trump. 

“Gulban quer que os seus repórteres e editores construam conexões profundas nas suas comunidades”. No entanto, em alguns mercados, a falta de repórteres dispostos a assumir o trabalho tem sido um desafio. O WSJ conta que, durante dois anos, a empresa procurou “um repórter a tempo inteiro no seu Crookston Daily Times, no Minnesota, oferecendo um salário de 40 mil dólares. O jornal foi encerrado em Fevereiro”.  

O empresário também enfrenta acusações de parcialidade por parte das autoridades locais, acreditando que as mesmas são um reflexo do “crescente ceticismo” em relação à imprensa. Os seus jornais evitam assuntos nacionais e não publicam notícias da Associated Press devido a recursos limitados e à tentativa de evitar a política, mas até esta estratégia tem causado problemas: “Gulban recebeu um e-mail de um assinante que ficou aborrecido após a tomada de posse de Trump em Janeiro, que teve lugar no feriado federal do Dia de Martin Luther King Jr. Um jornal do Texas tinha publicado um artigo sobre um evento local do Dia de Martin Luther King, relatado por um colaborador local, com fotografias, e não tinha qualquer reportagem sobre a tomada de posse. O leitor interpretou esse facto como prova de um preconceito liberal”, explana o Wall Street Journal

Algumas cidades pequenas procuram agora a ajuda de Gulban: Kitty Mayo e outros residentes da zona de Two Harbors, no Minnesota, pressionaram Gulban a fundar um jornal na zona depois de o Lake County News-Chronicle ter fechado em 2020. Gulban aceitou o desafio e o Lake County Press, uma publicação semanal, foi lançado em 2022. Mayo, agora editora do jornal, disse que perguntou a um editor de outro jornal CherryRoad sobre Gulban antes de o contactar. O editor disse-lhe: “Este tipo é legítimo. Ele quer salvar os pequenos jornais. É um bocado louco. Não sei se ele é capaz de o fazer”. 

(Créditos da imagem: Captura de ecrã do artigo no Wall Street Journal)