Escrever nas redes sociais não equivale a ser jornalista

Desde que a internet entrou em nossas vidas, qualquer pessoa -com um simples telemóvel - em qualquer hora e lugar pode emitir e transmitir opiniões e conteúdos sobre qualquer coisa, com um impacto que seria inimaginável apenas algumas décadas atrás. As novas tecnologias e sua rápida expansão deram origem a diversos fenómenos que afectam directamente a percepção que hoje se tem da profissão jornalística, inclusive por parte dos tribunais.
Por um lado, houve uma espécie de democratização da palavra e, com ela, a crença equivocada de que quem conta algo mais ou menos interessante nas redes, e, tem bastante seguidores, é jornalista. Por outro lado, e precisamente devido a esta disseminação incontrolável de mensagens, multiplicam-se as acções que, directamente relacionadas com a palavra e a informação, afectam os direitos de terceiros, obrigando juízes e tribunais a redefinir os contornos e limites das liberdades de informação.
Em resultado de tudo isto, estão a ser aprovadas inúmeras regulamentações que, com a desculpa de tornar o mundo digital um local mais seguro para os cidadãos, representam, na maioria das vezes, uma limitação exagerada e injusta da liberdade de expressão. Leis contra o discurso de ódio, contra o terrorismo verbal, contra as notícias falsas e a desinformação... E isso, apesar dos tribunais deixarem claro que a interferência na liberdade de expressão deve ser algo excepcional. Não é que a liberdade de expressão não tenha, ou não deva ter limites, mas que estes estão tão claramente delimitados que não se pode, nem mesmo, duvidar da conveniência ou não de limitar tal liberdade.
São questões sobre as quais alguns tribunais se tem pronunciado recentemente que, se não forem resolvidas, podem trazer consequências desastrosas não só para os jornalistas, mas, também, para todos os cidadãos, defende Serrano Maillo.
A inevitável democratização da difusão palavra, graças à Internet e às redes sociais, leva-nos a colocar a velha questão do que é ser jornalista. Uma pergunta que não costuma ser feita em relação a outras profissões, mas que surge recorrentemente quando se trata da profissão da informação. “Não consigo imaginar o nosso Tribunal Constitucional (TC) -ou qualquer um de nós- confundir um curandeiro com um médico, ou recomendar aos cidadãos que recorram ao tribunal com a ajuda de um amigo que, embora não seja advogado, conhece algumas ou muitas leis”, afirma.
No entanto, segundo autora, o Tribunal Constitucional espanhol, refere que os utilizadores das redes sociais, “podem vir a desempenhar um papel muito próximo daquele que os jornalistas têm vindo a desenvolver, até agora nos meios de comunicação tradicionais” confundindo o que é um criador de conteúdo ou comunicador com o que é um jornalista, reeditando deste modo a falácia do jornalismo do cidadão.
Não podemos negar que o direito à informação e à liberdade de expressão são direitos universais. No entanto, ser titular desses direitos não faz do cidadão um jornalista.
Dar notícias ou contar um exclusivo, escrever num blog, participar activamente numa rede social ou ter um canal no YouTube, por mais leitores ou seguidores que tenha pode tornar um individuo num “influenciador”, mas, não faz dele necessariamente um jornalista, defende Serrano Maillo.
O jornalista é um intérprete, o arquitecto que nos ajuda a compreender a realidade que nos rodeia, os acontecimentos que ocorrem e afectam a nossa existência, pesquisa, selecciona, pergunta, investiga, contextualiza, prepara e emite informações imparciais e verdadeiras de forma simples, mas completa. São características muito específicas como: "instinto nato da curiosidade, especial vontade de comunicar os factos e com competências mínimas para saber narrá-los",
O jornalista tem compromisso com a verdade e dever com a informação.
Não há dúvidas de que a profissão está a adaptar-se aos novos tempos, mas, no fundo, tudo permanece igual na essência do jornalismo.
Pode lêr o artigo completo em https://www.cuadernosdeperiodistas.com/ser-periodista-no-es-solo-contar-cosas/