“A contínua multiplicação e ampliação das redes sociais na internet reduz gradualmente o papel do jornalismo na produção e publicação de notícias, ao mesmo tempo que obriga os profissionais a desempenharem, cada vez mais, a função de orientador, conselheiro ou curador de informações”, começa por dizer Carlos Castilho no seu texto mais recente, publicado no Observatório do Brasil, com o qual o CPI mantém parceria.

O autor destaca que a curadoria de notícias é “um novo modelo de exercício da profissão que procura reverter o chamado negacionismo informativo, a forma encontrada por um número cada vez maior de pessoas para evitar a desorientação causada pelo excesso de notícias divulgadas na internet”.

Castilho refere-se à “avalanche de notícias produzidas nas redes sociais e nos veículos jornalísticos convencionais, responsável por fluxos frenéticos de dados numéricos, factos, eventos e opiniões, que confundem e desorientam leitores, ouvintes e telespectadores”.

Apesar de, segundo o autor, não faltarem “assuntos capazes de atrair a atenção do público”, tal não é suficiente “para romper” a gradual e contínua descida “nos índices de audiência, tanto na imprensa escrita, como nos programas noticiosos audiovisuais”, afirma.

O jornalista adverte que, “a avalanche noticiosa actual, a produção jornalística e o interesse público caminham em direcções opostas”, pois a maioria das pessoas não consegue “lidar com tanta notícia, o que leva muita gente a simplesmente ignorar o noticiário, um fenómeno que preocupa os jornalistas”, menciona.

Castilho alude ao “último relatório anual sobre a situação da imprensa no mundo, produzido pelo Instituto Reuters de Jornalismo”, onde se verifica que “41% dos brasileiros, cerca de 82 milhões de pessoas admitiram que são avessos à notícia, um termo livremente traduzido da expressão inglesa «news avoiders»”. E isto, refere ainda, também acontece nos “Estados Unidos, por exemplo”, onde “os «news avoiders» formam 42% da população, um dos índices mais altos entre os países ricos”.

Ora, de acordo com o autor, esta “avalanche informativa pela internet” está a provocar “mudanças estruturais no consumo de notícias, que ainda não foram plenamente percebidas pelas empresas jornalísticas nem pelo público”.

No caso das empresas “a batalha pela sobrevivência”, leva a uma “louca corrida por maiores audiências, apostando na super-oferta de notícias como principal estratégia, para assegurar publicidade paga”. No entanto, o público, por seu lado, acaba por evitar “a notícia, como um recurso básico para sobreviver à desorientação informativa no caos da internet”, explica.

Assim, na opinião do jornalista, “a curadoria de notícias é uma das poucas alternativas disponíveis até agora para enfrentar o crescimento do número de pessoas que procuram desligar-se da avalanche noticiosa. Trata-se de uma modalidade de filtragem de informações segundo as necessidades e desejos de um grupo de pessoas preocupadas em receber apenas os dados, factos, eventos e opiniões do seu interesse directo. A prática já é bastante usada nos campos da economia, artes e tecnologia, mas só agora começa a ser aplicada no jornalismo como um antídoto aos efeitos desorientadores da super-oferta de notícias”.

No entanto, “o exercício da curadoria jornalística de informações é um processo que ainda enfrenta resistências, porque implica o abandono paulatino de uma cultura profissional vigente há quase 200 anos e que se concentrou na produção, formatação e publicação de notícias”, denota o autor.

Carlos Castilho considera, apesar disso, que “a rotina clássica do jornalismo não desaparecerá, pois vai sobreviver em segmentos específicos da profissão, especialmente em grandes jornais impressos e telejornais. No entanto, ela está a ser empurrada para a curadoria de notícias”, sem hipótese de voltar atrás.

Contudo, o autor lembra que “várias empresas na internet” já “perceberam as ameaças embutidas no negacionismo informativo e lançaram projectos de curadoria de noticias, como é o caso do Google News, do Yahoo News Digest, Flipboard e do Circa News”.

De acordo com os investigadores sul coreanos Haeyeop Song, Jaemin Jung e Youngju Kim, que “defendem a tese de que a curadoria de notícias é uma alternativa eficaz para o combate às consequências da dificuldade das pessoas” em “lidar com a super-oferta de informações”, aquelas “são experiências parcialmente bem-sucedidas”.

Ainda assim, a curadoria de notícias, é um modelo que “ainda enfrenta resistências no meio jornalístico, em todo mundo”, uma vez que, segundo Castilho, “vai exigir uma redefinição das suas prioridades editoriais e também um novo modelo de sustentabilidade financeira”, conclui.