A proliferação de notícias falsas e as armadilhas políticas

O autor defende que “o combate às fake news está mais na esfera da comunicação social e menos no âmbito do poder executivo, já que é muito arriscado criar regras rígidas para neutralizar um problema que ganhou grandes dimensões, porque se aproveitou da escassa experiência da nossa sociedade com o manuseamento da informação digitalizada”.
Sendo um fenómeno antigo, que antes se manifestava através de jornais, revistas, noticiários radiofónicos e telejornais, no entanto “passava quase despercebido porque a comunicação jornalística pré-internet era controlada por um reduzido grupo de grandes empresas, na maioria privadas” afirma Castilho.
As redes sociais, passaram a “concorrer com a imprensa convencional na produção de fluxos informativos oferecidos à população, é neste contexto que surge a polémica sobre o combate às fake news”,
Basicamente, segundo Castilho esse combate é “um argumento manobrado pela imprensa convencional, para tentar construir uma imagem de credibilidade, no meio do caos informativo criado por grupos políticos extremistas no fluxo de notícias na Internet”.
“Se e a imprensa estivesse eticamente comprometida com a veracidade das informações publicadas até à chegada da internet, já teria feito um mea culpa de todas as notícias distorcidas, enviesadas e meias verdades veiculadas no passado como parte do jogo corporativo de interesses políticos e empresariais”.
“A ofensiva contra as redes sociais, ganha características de uma manobra dos grandes conglomerados mediáticos interessados em usar a bandeira do combate às fake news, como arma contra a acelerada expansão financeira de impérios tecnológicos como o Facebook e a Google”.
Quem se meter nesta guerra deve ter em conta que vai acabar por enfrentar “tanto as redes como grupos empresariais como a Globo, Folha e Estadão”.
Ao conquistarem “audiências infinitamente maiores” o Facebook, Youtube, Twitter, Instagram e Whatsapp tornaram-se “as plataformas preferenciais dos terroristas e extremistas online”.
Reconhecendo a necessidade e urgência de combater as fake news, o autor, recomendaque se “leve em conta o contexto social-económico-político em que estamos inseridos, as especificidades tecnológicas dos fluxos virtuais de notícias e os recursos de que dispomos para alcançar o objectivo” e a “inviabilidade de combater problemas digitais com ferramentas analógicas”.
Décadas de legislação e regulamentos “não conseguiram eliminar completamente a incidência de notícias falsas ou distorcidas na imprensa convencional”.
Segundo o autor “os media formataram audiências que, sem juízo crítico, incorporaram vários itens deste discurso nos seus valores individuais no tracto com a informação”.
Tudo mudou com a “avalanche informativa gerada pela Internet e por inovações tecnológicas como telefones moveis, computadores, bancos de dados e, mais recentemente, com a robotização e inteligência artificial”. Existe um espaço sem regras e sem valores consolidados na medida em que “o complexo sistema de produção de leis e regulamentos não consegue acompanhar o ritmo frenético das inovações tecnológicas”, afirma Castilho, que acrescenta que “muitas leis tornaram-se obsoletas e ineficazes antes de serem aprovadas”.
Ao contrário de tentar “normalizar o problema”, Castilho sugere que o governo aposte “em campanhas públicas de formação de consciências e de incentivo ao surgimento de novos valores.
Embora o governo seja indispensável no combate às fake news, é justamente por isso que não deve “cair na armadilha de pretender apresentar soluções definitivas e universais para atender aqueles que cobram resultados imediatos”. Para Castilho, o governo, corre um enorme risco se chamar a si “responsabilidade de achar soluções rápidas e definitivas para um problema tão complexo, como são as fake news”.