Francisco Pinto Balsemão: jornalista, empreendedor e visionário no panorama mediático português
Francisco Pinto Balsemão faleceu aos 88 anos, deixando um legado incontornável no jornalismo, na comunicação social e na política. O antigo primeiro-ministro, fundador do Partido Social Democrata (PSD) e do grupo de comunicação Impresa foi considerado um pioneiro dos media modernos em Portugal, ao fundar o semanário Expresso e a primeira estação privada de televisão, a SIC.
Esteve ainda no núcleo fundador do Clube Português de Imprensa , em 1980, que o distinguiu depois pela sua notável carreira de empreendedor nos media , sem nunca abdicar dos princípios e valores do jornalismo.
Segundo comunicado do Grupo Impresa, Francisco Pinto Balsemão morreu de causas naturais, rodeado pela família. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu-o como “uma das principais personalidades do país nos últimos 60 anos”, sublinhando o seu papel de “visionário, pioneiro, criativo, determinado, batalhador, democrata, social-democrata, europeísta e atlantista”.
Foram decretados dois dias de luto nacional, em sinal de reconhecimento pela sua contribuição para o país.
Dos primeiros passos no jornalismo ao nascimento do “Expresso”
Nascido em 1937, numa família com ligações à imprensa, Balsemão cedo herdou o gosto pela comunicação social. Com estudos em Direito, iniciou-se como jornalista no extinto Diário Popular e, posteriormente, tornou-se , na prática, o verdadeiro responsável pela orientação editorial daquele vespertino.
Mais tarde, desgostoso com a venda do Diário Popular pelo principal acionista da família, decidiu fundar, em 1973, o jornal Expresso, que viria a tornar-se o semanário de referência da imprensa portuguesa. Num Portugal ainda sob o regime do Estado Novo, o jornal foi uma “pedrada no charco”. Com uma visão plural, informada e crítica dos acontecimentos nacionais e internacionais, a publicação consolidou-se como uma plataforma de liberdade e debate político.
Deixou a direcção do Expresso em 1979 para se dedicar integralmente à política, sendo então sucedido por Marcelo Rebelo de Sousa.
O percurso político
Antes da fundação do PSD, Balsemão destacou-se como membro da “Ala Liberal”, um grupo de deputados oposicionistas dentro do regime marcelista que, nos últimos anos da ditadura, tentou introduzir reformas e abertura política.
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, foi, ao lado de Francisco Sá Carneiro, um dos fundadores do Partido Popular Democrático (PPD), mais tarde renomeado Partido Social Democrata (PSD).
A tragédia de Camarate, em Dezembro de 1980, que vitimou Sá Carneiro, levou Balsemão a assumir a chefia do Governo entre 1981 e 1983, num contexto de preparação para a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.
O nascimento da SIC e da Impresa
Depois de abandonar a vida política activa, Balsemão regressou ao mundo empresarial e consolidou o grupo Impresa, tornando-se um dos mais influentes empresários da comunicação em Portugal. Em 1992, fundou a SIC, a primeira estação privada de televisão portuguesa.
Com uma programação inovadora para a época, a SIC apostou em informação de qualidade, sem esquecer uma forte componente cultural e de entretenimento. Sob a liderança de Balsemão, o grupo Impresa foi crescendo e diversificou-se, integrando jornais, revistas e plataformas digitais.
O último adeus
O luto nacional de dois dias, decretado pelo Governo e promulgado pelo Presidente da República, cumpriu-se em 22 e 23 de Outubro. O velório decorreu no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Após um momento reservado à família, o espaço abriu ao público, registando uma longa fila de jornalistas, políticos, personalidades e cidadãos anónimos que quiseram prestar homenagem.
As cerimónias fúnebres, com honras militares, realizaram-se também nos Jerónimos, sendo presididas pelo cardeal-patriarca D. Manuel Clemente. Uma vez que Balsemão foi oficial na Força Aérea, foi prestada guarda de honra por militares deste ramo.
(Créditos da imagem: Tiago Miranda/Expresso)