Faleceu José António Saraiva, arquitecto de formação e jornalista por gosto

Faleceu o jornalista e arquitecto José António Saraiva, fundador do semanário Sol depois de ter sido director do Expresso durante 22 anos, um jornal com o qual se identificou e que dinamizou com um invulgar conjunto de iniciativas editoriais, que ainda hoje são uma forte imagem de marca.
Filho de António José Saraiva – ensaísta, historiador e crítico literário -, e sobrinho do também historiador José Hermano Saraiva, nasceu em Lisboa em 1948 e formou-se em arquitectura em 1973, que sempre considerou a sua matriz profissional, mais do que ser jornalista, profissão à qual se dedicou, no entanto, com alma e grande profissionalismo.
Polemista temível, assinou durante longos anos, tanto no Expresso como mais tarde no Sol, textos de análise política, invariavelmente acutilantes, bem informados e não raramente mordazes.
Publicou vários livros, um dos quais, talvez o mais provocador, ao qual deu o título “Eu e os políticos”.
Como ele próprio escreveu, naquela que seria a sua derradeira crónica no Sol, “o livro “Eu e os Políticos” foi objecto de grande escândalo, foi tema de muitos programas de TV, mas hoje posso dizer que o único objectivo foi corresponder à verdade e contar o que sabia com alguns filtros que usei para não entrar na esfera pessoal, como por exemplo o abuso de drogas por certos responsáveis. Os inimigos que verdadeiramente tive foram pessoas que mostraram menos carácter, como José Sócrates; a contrário, julgo que encontrei pessoas decentes, corretas e sensíveis”.
Interessado por História e pela sua investigação, designadamente, da mais recente, assinou vários livros, como “O Homem que Mandou Matar o Rei D. Carlos”, “Salazar - A Queda de uma Cadeira que Não Existia“, “Salazar e Caetano: O tempo em que ambos acreditavam chefiar o governo” ou, ainda, “Política à Portuguesa: Ideias, pessoas e factos seguido de Cronologia dos últimos 200 anos”.
Dedicou-se, ainda, ao romance, e publicou, em 2001, “O Último Verão na Ria Formosa”, explorando um cenário que conhecia bem e onde costumava passar as férias de Verão.
Personalidade multifacetada, José António Saraiva foi professor convidado na Universidade Católica e participou no centro de formação da RTP.
Apesar de nunca se ter sentido jornalista, como gostava de dizer, escreveu sempre com um raro sentido de independência e de gosto pela escrita.
Na sua ultima crónica no Sol, confessou: “Nunca fiz nada por encomenda para promover interesses obscuros. Bem hajam os que confiaram em mim. Não quero dizer uma despedida, o tempo o dirá se tiver condições para voltar a escrever”. Infelizmente, a doença grave atraiçoou-o mais cedo do que pensava e foi mesmo uma despedida.
(Créditos da imagem: Miguel Silva no SOL)