IA da Google transforma textos em conversas de “podcast”…

Um novo software de inteligência artificial (IA) da Google, NotebookLM, tem a capacidade de transformar qualquer conteúdo de texto num episódio de podcast, escreve Geoffrey A. Fowler, colunista de tecnologia no Washington Post (WaPo).
O NotebookLM, lançado em 2023, é de uso gratuito e resulta do esforço da Google de criar “produtos práticos [de IA] que ajudem as pessoas ‘normais’”, explica Geoffrey A. Fowler.
O sistema consegue processar até 50 documentos e transformá-los numa espécie de caderno com uma síntese da informação. Os utilizadores podem depois ler o resumo, fazer perguntas e interagir com o conteúdo como se estivessem a conversar com um chatbot, ou pedir ao software que gere um episódio de podcast com base na informação.
Esta última valência (áudio), que foi lançada mais recentemente, simula uma conversa entre duas pessoas num registo familiar, incluindo até hesitações e interrupções, tal como acontece num diálogo entre dois seres humanos.
O autor do artigo no WaPo testou esta funcionalidade do NotebookLM, carregando o texto de 99 páginas da política de privacidade do Facebook. Minutos depois, recebeu um áudio de sete minutos e meio com uma voz masculina e uma voz feminina sobre as práticas de uso de dados da Meta, acompanhadas de algumas brincadeiras.
“Fiquei pasmado”, diz o autor do artigo. “A certa altura, o apresentador de IA disse que estava a comprar botas de caminhada e que, pouco depois, percebeu que o Facebook começou a exibir anúncios de botas. ‘Achei que estava a ficar louco’, disse a IA”, conta, lembrando que isto é uma pessoa falsa a falar.
Com menos risco de alucinações, mas muito genérico
“Tentámos construir este sistema desde o início para ser o mais fidedigno possível. Os modelos tornaram-se extremamente bons a restringir-se aos materiais fornecidos como fonte”, explica Steven Johnson, director editorial no Google Labs.
Ao contrário de um chatbot como o ChatGPT, que usa toda a informação disponível online a que consegue aceder, o NotebookLM só usa a informação que é enviada pelo utilizador para produzir o conteúdo que lhe é pedido.
Embora tenha algum sentido crítico (por exemplo, no caso do podcast sobre a política de privacidade do Facebook, assumiu por iniciativa própria o ponto de vista de um utilizador céptico), o sistema nem sempre se consegue concentrar nos aspectos mais relevantes dos textos.
“Nos meus testes, ao contrário de factos errados, surgiram frequentemente casos de ênfases desadequadas ou nuances mal entendidas”, descreve Geoffrey A. Fowler.
Também um académico da Brown University partilhou que este software teve dificuldade em identificar os pontos mais importantes dos artigos científicos que o professor submeteu para resumo.
“Talvez qualquer sumário esteja destinado a ser superficial. E está tudo bem, especialmente se for apenas um sítio para começar a explorar a informação”, reflecte o autor do artigo, questionando, de seguida, se será efectivamente este o uso que está a ser feito destas tecnologias, principalmente pelos mais novos, ou se as gerações mais jovens tomam estes conteúdos como produto final, sem sentir necessidade de ler os textos originais e de confirmar se a informação está correcta.
(Créditos da imagem: vectorjuice no Freepik)