Jornalismo europeu precisa-se com urgência
Não questiono (nem por sombras, ou talvez por causa delas) a necessidade de uma acção concertada entre vários países para tentar ultrapassar um momento político inquestionavelmente crítico da Europa (para dizer a UE). Mas estranhei a total omissão de referência ao que considero ser um dos mais graves problemas que a Europa tem neste momento: o do apagamento do jornalismo, a que muito paradoxalmente a Internet não tem dado espaço, substituindo-se, aliás, à missão de escrutínio daquele sob a forma de propaganda e de opinião tendenciosa (via Órgãos de Comunicação Social detidos pelas corporações que dão cartas nos mercados económicos e financeiros globais e agregadores de notícias – muitas vezes falsas e a maior parte delas carecendo de verificação de fontes – vendidas em cadeia, por cadeias de intermediários pagos ao click).
Por essa razão, pouco ou nada sabemos do que por exemplo se passa em Itália (o grande a fazer de pequeno para passar entre os pingos da chuva), onde o desemprego atinge níveis inéditos (apesar dos números oficiais que os desmentem), ou em França, onde a votação do estado de emergência em Novembro passado na Assembleia Nacional contou apenas com as presenças de 136 deputados de um total de 577, o que evidentemente levanta importantes questões de legitimidade aos actuais governantes que, para fazê-lo cumprir, não só coartaram a liberdade de manifestação como pretendem prolongá-lo. Podia dar outros exemplos mais próximos, como Espanha, onde a crise política pós-eleições legislativas se mantém praticamente arredada dos noticiários televisivos portugueses. Há programas sobre a Europa, claro, mas tratam prevalecentemente das bandeiras e sucessos da actual UE, pelo que não podem de modo algum ser considerados produtos do jornalismo, mas, e uma vez mais, propaganda (com excepção, talvez, de um programa de debate entre os deputados portugueses ao Parlamento Europeu que passa na RTP2 e que é visto por uma pequena minoria de gente que quer ver o segundo canal do operador público).
Quanto tempo mais teremos de esperar por um projecto jornalístico multilingue passível de trazer o jornalismo de volta à Europa, através do qual um cidadão médio português (que habitualmente não procura informação credível na Internet) possa sem dificuldade manter-se a par do que se passa no conjunto de países que integram a União Europeia? Ou serão as políticas comuns, os problemas que geram e os debates que exigem assuntos circunscritos aos burocratas da Europa?