A Cimeira Africa Facts, realizada em Dakar, no Senegal, abordou a crescente autonomia e resiliência das organizações africanas de verificação de factos após a retirada do financiamento da Google e da Meta.  

O tema da cimeira, “Reforçar a Integridade da Informação, Salvaguardar a Democracia”, reflectiu-se nas discussões sobre os riscos da desinformação em contextos de crise. Num artigo do Poynter Institute, Jibi Moses, do Sudão do Sul, relatou as dificuldades em “verificar as alegações durante os apagões da Internet”, enquanto Esdras Tsongo, da República Democrática do Congo, alertou que “a desinformação pode ser mortal”, especialmente durante epidemias como o ébola. Para Tsongo, a acreditação da International Fact-Checking Network (IFCN) “não foi uma procura de oportunidades, mas sim um compromisso público com um trabalho rigoroso, transparente e imparcial”. 

Também Charles Lotara, do 211 Check, sublinhou os perigos da profissão num ambiente instável: “Por vezes, verificamos informações de grupos armados e do governo no mesmo dia. Não nos podemos dar ao luxo de cometer erros.” Face à redução do financiamento, as equipas recorrem a parcerias locais e ONG internacionais para se manterem activas. 

Apesar dos desafios, África tem agora 18 signatários acreditados [da IFCN], quase o dobro do número de há menos de cinco anos, superando até a América do Norte. A rede regional Africa Facts conta já com 59 organizações que trabalham para “cumprir o Código de Princípios da IFCN e reforçar a sua credibilidade junto do público e dos parceiros”. 

Doreen Wainainah, da PesaCheck, explicou que a sustentabilidade do sector assenta na colaboração e na mobilização de especialistas locais: “Tentamos garantir que temos especialistas locais que compreendam as nuances dos seus países”. Acrescentou ainda: “Devemos unir-nos em diferentes áreas de especialização para verificar eficazmente as alegações sobre as alterações climáticas. É tudo uma questão de colaboração.” 

Para ela, a sustentabilidade vai além do dinheiro, significando também “construir sistemas que levem a informação verificada às pessoas que mais precisam”. 

Hlalani Gumpo, da Africa Check, reafirmou o compromisso de continuidade: “Os recursos limitados não impedirão a organização sediada na África do Sul de reunir verificadores de factos de todo o continente para enfrentar as questões mais difíceis da área.” Já Peter Cunliffe-Jones, fundador da Africa Check, indicou estar a investigar novos modelos de receitas para verificadores de factos, o que mostra que, embora o sector amadureça, “ainda está a descobrir como financiar o seu futuro.” 

(Créditos da imagem: Africa Check)