Um novo artigo do Columbia Journalism Review analisa a deterioração da liberdade de imprensa, comparando a situação actual dos Estados Unidos com os casos da Rússia e da Polónia, onde jornalistas enfrentaram desafios graves resultantes de contextos autoritários. As autoras, Paulina Milewska e Ksenia Mironova, jornalistas oriundas desses dois países, partilham as suas experiências com o objectivo de inspirar jornalistas norte-americanos perante sinais de erosão democrática. 

Na Rússia, a repressão à imprensa livre intensificou-se com a guerra na Ucrânia. Exemplo disso é o caso de Ilya Krasilshchik, antigo editor do Meduza, que viu-se obrigado a exilar-se em Berlim e fundou a Helpdesk Media, uma plataforma exclusivamente presente no Instagram e Telegram, tornando-se difícil de censurar no país. Através da plataforma, recolhe testemunhos sobre a guerra, o que mostra como jornalistas têm sido obrigados a trabalhar com recursos mínimos ou até mesmo inexistentes. 

Projectos independentes e de nicho têm visto a luz do dia: o movimento Resistência Feminista Contra a Guerra, criado por Darya Serenko, presta auxílio a refugiados ucranianos forçados a viver na Rússia, enquanto o podcast Women’s Sentence, de Sasha Graf, dá voz a mulheres presas no sistema penal russo. Estas iniciativas caracterizam-se por estruturas horizontais, poucos meios e grande versatilidade dos seus autores, que acumulam múltiplas funções. A adaptação a novos públicos também é central. Muitos jornalistas migraram para plataformas como YouTube e TikTok, com sucesso junto de públicos jovens, como no caso da influenciadora Prikolena e de Alexander Makashenets, que satirizam a propaganda estatal. 

Na Polónia, a luta foi marcada sobretudo pelo abuso dos tribunais como arma política. O jornal Gazeta Wyborcza enfrentou mais de cem processos por difamação movidos por membros e aliados do partido Lei e Justiça (PiS). Apesar da maioria das acções ter sido rejeitada, estas perseguições visaram fragilizar a imprensa crítica. Em vez de se silenciar, o Wyborcza respondeu com uma campanha pública que denunciava os processos judiciais como instrumentos de intimidação. Esta abordagem incentivou outros meios, como o OKO.press, a fazerem o mesmo. 

A pressão judicial motivou uma mobilização nacional e internacional em defesa da imprensa. Em 2023, uma mudança de governo acabou por retirar muitos dos processos pendentes. No entanto, o texto sublinha que a resistência não dependeu de instituições salvadoras, mas de jornalistas que “se salvaram uns aos outros”. As jornalistas deixam um aviso à imprensa norte-americana: “Na Polónia e na Rússia, os media independentes não sobreviveram por causa de leis ou eleições; sobreviveram porque as pessoas se recusaram a desistir. Os jornalistas americanos ainda têm mais espaço para manobrar — mas essa janela está a estreitar-se". Como afirmam as autoras, “quando as instituições vacilam, os jornalistas precisam ser criativos para encontrar uma comunidade. E a hora de começar a construir essas conexões é agora”. 

(Créditos da imagem: Adobe Stock / Illustration by Katie Kosma)