Um jornal dedicado às crianças para cativar a próxima geração
![](https://clubedeimprensa.pt/wp-content/uploads/2024/12/Casoris.png)
Com o objectivo de aproximar os mais novos das notícias e de criar hábitos diários de consulta da informação, foi criado, na Eslovénia, o Časoris, um jornal para crianças, noticia o The Fix, site de informação sobre o sector dos media.
“Temos uma geração de pais que não lêem jornais. O que levará a uma geração de crianças que não só não lêem [notícias], como não sabem o que é um jornal”, diz Sonja Merljak Zdovc, jornalista, especialista em literacia mediática e ex-editora no jornal diário nacional Delo.
A responsável alerta que os meios de comunicação social tradicionais não se estão a dirigir às crianças como “futuros eleitores ou consumidores”.
“As crianças não vão saltar do TikTok para os jornais sérios por si mesmas”, adverte.
Para contrariar o preocupante cenário de perda em grande escala de leitores de notícias nas próximas gerações, Sonja Merljak Zdovc fundou em 2015 o Časoris, um jornal gratuito destinado às crianças entre os 6 e os 12 anos.
O nome resulta de um jogo de palavras: časopis (jornal) e risati (desenho).
Embora com características específicas e uma linguagem própria, o Časoris inclui secções de política, desporto, economia e lazer, tal como qualquer outro jornal.
O plano de sustentabilidade desta publicação, que tem actualmente mais de 13 mil visitantes por mês, passa pela dinamização de formações em literacia mediática, pela organização de encontros e pela captação de financiamento através de fundos de apoio aos media, tais como a Google News Initiative.
“Um jornal para o público mais velho pode aprender muito com um jornal feito para crianças — sobre como captar a atenção do público, como falar com as pessoas”, considera Merljak Zdovc.
“É isso que fazemos com as crianças a toda a hora. Tentamos sempre perceber o que é importante para elas e como podemos fazer-lhes chegar” a mensagem, continua.
A responsável identifica quatro estratégias para uma aproximação de sucesso aos leitores mais novos:
- Conteúdo acessível
Além das regras elementares do jornalismo — frases curtas e simples —, é utilizada uma linguagem fácil de entender, mas sem recorrer a um tom paternalista.
São também usados conteúdos multimédia, e procura-se relacionar os temas mais abstractos com acontecimentos da vida real.
- Actividades e interacção
No fim de cada artigo, é disponibilizado um glossário, para garantir que as crianças são expostas aos termos mais complicados, mas sem impedir que entendam o conteúdo das notícias.
São, ainda, sugeridas perguntas no fim das peças, desafiando os leitores a processar a informação e a dialogar com as outras pessoas sobre os conteúdos. Por exemplo, num artigo sobre os riscos do mundo digital, as três perguntas são: “Conheces alguém cuja informação online tenha sido roubada?”, “Achas que as tuas palavras-passe são suficientemente seguras” e “Sabes o que quer dizer a palavra ‘phishing’?”
- Inclusão no processo noticioso
“Nós pedimos às crianças que contribuam quando escolhemos um tema ou quando elas vêm ter connosco com alguma notícia. Convidamo-las a escrever e publicamos os seus trabalhos”, descreve a fundadora do jornal.
Esta abordagem parece funcionar. O artigo mais lido do jornal é uma peça escrita por um leitor jovem sobre uma tendência popular entre os mais novos. O tema acabou por ser, depois, coberto pelos jornais tradicionais.
- Adoptar o jornalismo lento
O jornal publica apenas um artigo por dia, para evitar “inundar” as crianças com excesso de informação.
Embora isso possa significar que alguns assuntos da actualidade acabam por não ser noticiados, também permite tomar decisões mais conscientes sobre os conteúdos que são disponibilizados, nomeadamente evitar o excesso de notícias sobre crises ou acontecimentos mais sensíveis.
(Créditos da imagem: Recorte do site do Časoris)